Um Passo de Sorte – Jojo Moyes

Sam está com problemas no casamento, com a filha e no trabalho. Ela está fazendo de tudo para ser forte. Quando está na academia antes de ir para o trabalho ela acaba com outra bolsa parecida com a dela. Dentro tem roupas caras e um sapato muito lindo e chique, coisa que ela está longe de usar, mas decide usar o que está dentro da bolsa, pois tem uma reunião importante.

Nisha é a dona da bolsa e do par de sapatos Louboutin. Ela está em outro país com o marido, por isso estão em um hotel. Ela vai em uma academia, mas acaba trocando as bolsas. Inclusive, em um momento de fúria acha que foi roubada. Mas seu dia fica ainda pior ao chegar no hotel e ver que seu marido proibiu a entrada dela, pois ele decidiu que quer o divorcio. Agora, esse par de sapatos vai ser o responsável por unir essas duas mulheres.

Essa história surgiu de um conto da própria autora, “Sapatos de Pele de Crocodilo”, que faz parte do livro “Paris Para Um e outros contos”, publicado pela Intrínseca em 2017. Fazia muito tempo que eu não lia Jojo, então eu estava ansiosa por essa leitura, pois eu adorei tudo que li dela. Contudo, esse foi o que menos gostei. Ele não é ruim, longe disso, mas acredito que o que menos me envolveu. Um ponto importante é que tenho procurado nos livros personagens mais velhas. Aqui, as protagonistas tem mais de 40 anos, então já passaram por muita coisa, elas têm muita bagagem. As duas são mulheres maduras, com problemas de pessoas “normais”.

“… aperta os olhos com as mãos querendo que tudo pare. Querendo ser arrancado desse corpo, dessa vida, e colocado em um lugar onde não precise lidar com nada.”

Sam é uma mulher “comum”, vamos dizer assim, ela tem um marido, uma filha e um emprego numa gráfica. Contudo, ela tem alguns problemas: o marido está com depressão, a comunicação com a filha não anda muito boa e ela tem um chefe muito desgraçado. Digo que ela é comum, pois acho que é mais fácil rolar uma identificação com mais questões dessa personagem. Além disso, gostei de ver a vontade dela de ser uma pessoa feliz com ela mesma e se sentir bem dentro da realidade dela, por mais esgotada e solitária que se sinta. Ela consegue compreender o marido, que está com depressão, por mais que isso seja difícil para ela. Há uma visão muito interessante do esposo, Phil, na qual vemos ele fazendo terapia. Isso nos ajuda a compreender a visão dele da situação também.

A Nisha já está numa posição social um pouco melhor, pois é casada com um homem que tem dinheiro. Mas sua vida está por ruir quando o marido a deixa para fora do hotel, se nega a atendê-la e quer o divorcio. O peculiar de tudo isso vai ser quando ele exigir o par de sapatos Louboutin de volta para um negociação do processo de separação. O marido dela simplesmente decidiu que não quer mais ela, então do nada bloqueia os cartões. Foi essa parte que me incomodou um pouco, eu achei que foi muito simples paro o marido só fechar tudo e não deixar a mulher entrar no hotel em um país diferente. Ele nem se importou se ela teria onde ficar, a ponto dela ter que trabalhar ali de camareira do hotel. Na verdade, durante o livro, muitas coisas que acontecem com essa personagem me pareciam ser fora da realidade. A vida de Nisha se transforma ao encontrar Jasmine, outra moça que trabalha no hotel. Elas vão construir uma amizade muito bonita e que vai ensinar muito para Nisha.

Jojo Moyes mostra aqui a importância de uma rede de poio entre mulheres. A sociedade exige muito da mulher, então a autora explora de forma leve o que faz parte da nossas vidas: relacionamento, vida profissional e maternidade. Quando essas mulheres se unem, conseguem mostrar o quão fortes elas são. Outro ponto aqui também, é a pressão estética e como homens fazem as mulheres se sentirem menos competentes. O ponto alto do livro é com certeza o debate desses temas sob visão de personagens tão diferentes, pois podemos ter vidas distintas, mas o mundo nos cobra igual.

Um Passo de Sorte mostra o poder da amizade feminina e como conhecer diferentes realidades nos transformam em pessoas melhores e mais dispostas a ajudar outra mulher.