Depois de uma tempestade torrencial, a água da chuva leva o barro, deixando uma parte de um corpo de uma jovem à mostra. Tudo indica ser Amélia, a filha de um deputado de Curitiba. Ela desapareceu há alguns meses, mas o caso foi arquivado, pois sua família achava que ela tinha fugido para outro país. As investigações são abertas, e a pressão na polícia é intensa. Amélia era professora do ensino médio e a princípio não tinha problemas com ninguém, então as suspeitas recaem sobre seu ex-namorado, uma suspeita frágil, no entanto. As investigaçoes não podem parar, pois há um mistério em torno desse assassinato.
A narrativa se desdobra em duas vertentes: no presente, acompanhamos a delegada Ana e o policial Júlio em uma investigação meticulosa para desvendar o assassinato de Amélia. O caso tinha sido arquivado, então eles precisam lidar com as questões envolvendo a investigação com muito cuidado; enquanto também somos levados ao passado da própria vítima, revelando sua vida até chegar ao dia de sua morte. Eu me senti envolvida com tudo e curiosa sobre o motivo do assassinato da jovem. Fui pega desprevenida no final.
O ponto positivo da obra é o fato da autora aproveitar para trabalhar assuntos de extrema importância, como o envolvimento de famílias poderosas nas investigações policiais. Além disso, o pai de Amelia é político, então isso também é um tem um peso enorme na investigação e no modo como a polícia conduz o caso. A autora faz críticas sutis, mas muito persistentes ao comportamento dos investigadores quando a morte a ser investigada é de uma pessoa importante. Gostei muito de como ela trabalha nesse ponto.
“Só que a família é para isso, para nos lembrarmos sempre de que somos responsáveis por alguma coisa além de nós mesmos.”
Amélia é a principal fonte de debate da obra, filha de pais religiosos, a menina nunca conseguiu seguir a vida da maneira como gostaria. Além disso ela sofre com pressão deles sobre outras decisões em sua vida. Assim, ela é uma menina mais reclusa e deprimida. Ela sofreu muito com as expectativas da família e ir morar sozinha foi uma ótima decisão para sua vida. Então, vamos ver muitas questões sobre como Amélia foi se autodescobrindo depois de sair da casa dos pais. Conforme ela vai descobrindo sobre si mesma, ela vai precisar lidar com tudo que ela mesma acredita como certo e errado para sua vida.
No presente, também vamos conhecer melhor os dois detetives do caso, Júlio e Anna. Mesmo ficando ansiosa para saber mais sobre Amélia, esses momentos centrados na vida deles, são importantes também para compreendermos o modo como eles seguem a investigação. Aquém disso, adentrar a vida desses personagens da profundidade traz mais verossimilhança à trama. É muito interessante ver a bagagem de cada um.
Eu fiquei extremamente surpresa com o final. Aqui a autora ganhou pontos, eu não vi essa revelação chegando apesar de ter desconfiado do motivo do assassinato. Mas mesmo assim, eu gostaria que a autora tivesse mostrado mais elementos durante a narrativa que sustentasse o final, um debate maior sobre alguns temas seria mais assertivo. Boas Meninas se Afogam em Silêncio é um livro que vai além da investigação de um crime, ele debate temas urgentes, como preconceito e aceitação.
- Boas Meninas se Afogam em Silêncio
- Autor: Andressa Tabaczinski
- Tradução: -
- Ano: 2024
- Editora: Rocco
- Páginas: 272
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