Conheci as tirinhas e ilustrações de Sarah Andersen em meados de 2020, quando o ritmo do mundo reduziu, a incerteza se materializou em nossas vidas e, hoje parece-nos que de um momento para o outro, não mais sabíamos como manter os nossos psicológicos a salvo. Foram dias difíceis, solitários e tristes que me proporcionaram significativos aprendizados e descobertas, tive a companhia de produções artísticas encantadoras e acolhedoras, todas virtuais devido a situação que vivíamos, muitas das quais me acompanham ou acompanharam até hoje. E então, quatro anos depois, pela primeira vez, tive contato e acesso à versão física de uma das antologias de tirinhas da ilustradora e cartunista mais esquisitinha, ou não, que esse mundinho já viu!

Quarto livro publicado pela Editora Seguinte, Esquisitona segue o mesmo padrão editorial e gráfico de Ninguém vira Adulto de Verdade, Uma Bolota Molenga e Feliz e A Louca dos Gatos. Impresso em preto e branco – ou escala de cinza, confesso não ter certeza – a coletânea é tão versátil e certeira quanto os diversificados e peculiares conflitos que assolam gerações, pode ser devorado em apenas uma sentada pelos ansiosos em finalizar, de uma vez por todas, outro livro… ou apreciado aos poucos, de 15 a 30 segundos por vez, pelos supostos multitarefas cujo foco de atenção foi drasticamente reduzido pelo intensivo uso de redes sociais.

A cada página folheada o leitor encontrará uma esquisitice, hiper fixação por sapos ou característica essencial e curiosamente millennial que, essa leitora também nascida em 1992 e levemente alternativa, necessita confessar serem uma das melhores coisas dos recortes temáticos da artista. Enxergar-se nos traços, comportamentos, pensamentos e sentimentos retratados por Sara Andersen é ver-se aconchegado pela certeza de que não existe problema algum em ser diferente, possivelmente estranho, perfeitamente inadequado em meio a inconvencionalidade do mundo.

Ao tratar de pequenos detalhes que partem desde o convívio com gatos e cães, relacionamento e apoio de amigas por meio das redes sociais, até os problemas com relação à ansiedade, procrastinação, autossabotagem e síndromes de impostor ou perfeccionismo, Sarah Trabalha com uma sinceridade, honestidade, simplicidade e transparência geniais.

Ainda que não seja objetivo de breves tirinhas de um, quatro ou mesmo seis quadrinhos, resolver questões intimas e psicológicas dos leitores, ao possibilitar a visualização e conexão de si com uma personagem ficcional tão, ou mais, esquisita quanto nossas próprias características, nos tornamos um pouco mais confortáveis em nós mesmos. E, mesmo que as acolhedoras reflexões sobre nossas dores, inseguranças e problemas mentais permaneçam no campo da identificação e reflexão, podem vir a nos direcionar para estratégias, comportamentos, pensamentos e, por que não, busca por maneiras de trabalhá-las de modo a não mais dificultarem nossas vidas.

Por isso é tão bom e vale tanto a pena adentrar o universo de Sarah Andersen e dele nunca mais sair!

Avaliação: 5 de 5.

  • Oddball
  • Autor: Sarah Andersen
  • Tradução: Sofia Soter
  • Ano: 2023
  • Editora: Seguinte
  • Páginas: 120
  • Amazon

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