Já se passaram 17 anos desde que Odisseu partiu de Ítaca com seus homens para a Guerra de Tróia. Contudo, a guerra já acabou, guerreiros de outros lugares já voltaram para casa, mas nenhum homem de Ítaca voltou. Penélope, esposa de Odisseu, ficou na ilha com seu filho, as esposas dos guerreiros e poucos homens que Odisseu não achou serventia para guerra. Mesmo com todo esse tempo, Penélope acredita que seu marido está vivo, então ela segue esperando-o. 

Mas isso não impede os pretendentes de chegarem à ilha querendo casar com Penélope e assumir o lugar. Penélope está ciente que qualquer escolha que faça pode mergulhar Ítaca em uma guerra. Então, ela segue enrolando esses homens na esperança da chegada de Odisseu. Contudo, na ilha, são as escolhas das mulheres deixadas para trás – e de suas deusas – que mudarão o destino de todos.

Eu, como uma fã de Ilíada e Odisseia, adoro ler histórias que tenham como base essas obras ou a mitologia de forma geral. Também, me questiono sobre a necessidade de ler esses originais para ler as releituras. Mas com tanta coisa fazendo referência a essas histórias já nem sei mais qual a verdadeira necessidade, pois ao mostrar a visão de Penélope, Claire North não nos deixa de fora dos acontecimentos de Odisseu em seu retorno da guerra. Contudo, acho que mesmo assim, eu sempre vou defender a leitura dos clássicos de Homero.

A voz aqui, narrando, é de Hera, deusa das mulheres, dos casamentos, da família e dos nascimentos, além de ser esposa de Zeus. Eu achei curioso a autora trazer a visão dela sobre o que está acontecendo, pois Hera é, normalmente, tratada de uma forma negativa. Mas foi interessante, pois a autora me fez reforçar a visão de que muitas vezes a Deusa é incompreendida.

Como em Odisseia, ficamos sabendo um pouco sobre Penélope, aqui Claire North traz sua visão sobre essa personagem, assim como outras autoras já fizeram. Eu acho curioso, de certa forma, essa “obsessão” que algumas autoras têm em mostrar a visão das mulheres retratadas nas obras de Homero. É importante lembrar que o poeta relata tudo sobre a visão dos homens e que as mulheres sofrem muito, inclusive sabemos o final drástico de muitas delas. Então, por mais que as autoras expõem alguns acontecimentos, mostrando a forma que essas mulheres enfrentaram e aguentaram os perigos da guerra nas mãos dos homens, o destino teoricamente não pode mudar, pois ele já está escrito.

“Ensine minhas mulheres a lutar – sussurro, enquanto a noite se dissolve em dia.”

A escrita das Claire North é lenta, é tudo bem descritivo. Muitas coisas acontecem nesse período de tempo. Ítaca está vulnerável, poucos homens para protegê-la, Penélope cansada de manter a ilha em pé. Constantemente, Ítaca é atacada por piratas, que saqueavam o pouco que restava. Além disso, há muitas decisões que a rainha precisa tomar. Isso toma um tempo considerável da trama e, por isso, achei o livro lento e enrolado em alguns momentos.

Claire North traz a Penélope de nosso imaginário, uma mulher esperta, forte, fiel, claramente gostamos dela. Na verdade, é bem impressionante, ela ter sobrevivido a tudo que passou. A autora explora também muito bem a relação das mulheres, principalmente quando o objetivo é defender Ítaca. Clitemnestra é outra mulher importante aqui. Ela e seus filhos, Orestes e Electra, chegam na ilha para muitos momentos de tensão. Mas, para mim, além de Penélope, o destaque fica na deusa Atenas. Eu gosto muito dessa deusa e da força que ela tem. Para mim, Claire North retrata ela de sua maneira mais cruel e realista, ela só se importa com Odisseu, as mulheres nunca a importam. Ela tem um objetivo, e segue as diretrizes que acha adequadas para alcançá-lo. Gosto tanto dela por isso.

Mesmo achando a leitura lenta, quero ler o próximo livro, estou curiosa para saber o que a autora imaginou para os próximos acontecimentos. Nunca me canso de revisitar as grandiosas obras de Homero.

Avaliação: 4 de 5.

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