Cairo, 1912, os membros da Sociedade Hermética de Al-Jahiz, irmandade secreta dedicada ao homem mais famoso da história, são assassinados por um homem que diz ser Al-Jahiz. Há 40 anos, ele abriu o véu que isolava o mundo mágico ― trazendo os djinns, ou gênios, para a realidade humana ― e desapareceu sem deixar vestígios. Para investigar esse caso, entra em cena Fatma el-Sha’arawi, a mais jovem mulher a trabalhar para o Ministério de Alquimia, Encantamentos e Entidades Sobrenaturais. Mas pela complexidade do caso, ela ganha uma parceira, Hadia. Além delas, outra pessoa vai ajudar com esse caso, Siti, a namorada misteriosa de Fatma. Mas nada é fácil, e elas vão precisar juntar forças e ir atrás de muitos segredos de pessoas com poder.

Um ponto muito legal nesse livro é que humanos e djinns coexistem num clima até bem agradável. Com certeza, o ponto-chave do livro é a proposta decolonial. Aqui o Egito nunca foi colonizado, o Cairo é o centro do mundo, e isso é outro ponto positivo, pois tira um pouco do foco dos países que estamos acostumados a encontrar nas histórias. O Egito é um lugar muito bonito, e tudo lá já atrai uma curiosidade normal das pessoas, então imaginar esse lugar cheio de criaturas mágicas é muito legal.

A escrita do autor é muito descritiva. Há vários momentos em que ele dedica tempo para descrever em detalhes os lugares e as roupas, são longos parágrafos. Isso deixou a leitura mais lenta e me distanciou do enredo em vários momentos. Aqui, temos um livro que pretende ser steampunk, contudo tive dificuldade de visualizar dessa maneira.

“O Egito se vangloriava por sua modernidade. Mulheres iam para a escola e enchiam as prósperas fábricas, eram professoras e advogadas. Alguns meses antes, as mulheres tinham até garantido o direito ao sufrágio. Fala-se sobre elas entrarem em cargos políticos, mas a presença de mulheres na vida pública ainda irritava muitos. Alguém como ela aturdia completamente o juízo dos homens.”

O autor investiu em protagonismo feminino através de Fatma, uma mulher forte. Por ser considerada a mais jovem a trabalhar no ministério, senti que ela precisa estar sempre se provando e é muito dura em relação a isso. Ela lida constantemente com homens, então no começo senti ela mais na defensiva, mas conforme ela e sua parceira se tornam mais abertas uma com a outra, Fatma relaxa um pouco mais. Contudo, confesso que tive um pouco de dificuldade com a gostar dela, pois até mesmo com a namorada, ela é mais dura. Também não achei ela uma boa detetive, demorou para ela descobrir coisas importantes. Mas tem uma coisa que eu gostei nela, o modo como ela lida com os djinns. 

Hadia vai ser a parceira de Fatma no Ministério da Alquimia, Encantamentos e Entidades Sobrenaturais. Gostei bastante dela, pois ela me transmitiu calma e soube lidar com Fatma. Felizmente, ela se mostra uma peça importante para investigação. Mas, para mim, a personagem destaque é Siti, a namorada de Fatma. Ela é cheia de sensualidade e mistério, e foi bem legal ir descobrindo aos poucos mais sobre ela. Seus conhecimentos são de suma importância na investigação da dupla de detetives. Ela acaba se tornando uma parceria também. A relação dela com Fatma vai se transformando também durante a trama, conforme elas se conhecem mais e aprendem a aceitar uma à outra como são. Há um momento romântico muito bonito.

P. Djèlí Clark pesa na política, então é um ótimo livro para quem gosta de tramas com essas questões, além de questões religiosas. Achei bem interessante o modo como o autor explora a sociedade secreta e o que eles faziam em nome de algo em que acreditavam. Interessante também como o autor trabalha os estrangeiros nesse local, tentando dominar, tomar posse de, algo que teoricamente não faz parte da cultura deles, mas sim de quem mora ali no Cairo. Mestre dos Djinns não é um livro com muita ação ou muito rápido de ler, mas surpreende nas reviravoltas. Há fantasia, mistério e muita crítica. O autor vai debater xenofobia, racismo e misoginia de maneira bem responsável.

Avaliação: 3 de 5.

  • A Master of Djinn
  • Autor: P. Djèlí Clark
  • Tradução: Solaine Chioro
  • Ano: 2023
  • Editora: Suma
  • Páginas: 352
  • Amazon

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