Como estragar seu fim de semana de descanso? Tudo que o detetive Adam McAnnis queria era um tempo longe do trabalho, relaxar, beber alguns drinques e ter a paz que há tanto tempo deixou de encontrar.

Adam escolhe um clube em West Heart para passar este tempo. O local é chiquérrimo, com produtos maravilhosos sendo oferecidos aos seus hóspedes, funcionários muito educados e atenciosos e um ambiente envolto por uma aura perfeita para quem deseja revigorar a mente.

Porém, nem sempre as primeiras impressões são as que ficam. O fim de semana do nosso detetive rui logo de cara, quando um dos hóspedes acaba morto no mesmo dia em que ele chega ao lugar. Agora, ele precisará deixar de lado tudo que havia planejado e voltar ao trabalho, investigando as circunstâncias daquela morte.

Esse estilo de livro sempre me agradou, ele pode ser considerado um cozy mystery, aquelas obras onde o enredo, apesar de envolver uma morte, não mostra cenas pesadas e a maneira como o desenvolvimento acontece é leve e agradável. Acho que este estilo de narrativa acaba atraindo qualquer leitor, desde os mais experientes, até aqueles que ainda estão iniciando no hábito da leitura, podendo inclusive ser lido sem nenhum problema por adolescentes.

A ambientação da história, passada em 1976, colaborou ainda mais para a expectativa que criei com esta leitura. É raro vermos livros que se passem em clubes, sendo inclusive um ambiente um pouco distante para a maioria dos brasileiros, mesmo que em outros países possam ser considerados um dos maiores pontos de encontro da alta sociedade local, fazendo parte, inclusive, de situações políticas e econômicas destes lugares.

Mas, nem tudo que esperamos acaba acontecendo, e a história no fim acabou se demonstrando uma decepção para mim. Não que o livro seja péssimo, mas eu tinha imaginado algo muito melhor, principalmente pelo que eu via sendo falado nos sites de resenhas americanos. Mesmo com toda originalidade que o ambiente nos oferece, acabei não sendo impactado pela trama, a parte “leve” do conceito do enredo acaba se arrastando muito, como se os plot twists praticamente não entreguem a emoção que precisamos para uma leitura nos fascinar.

Talvez, Os Pecados de West Heart seja mesmo para um público mais inexperiente, que não esteja tão acostumado aos mistérios literários, ou que valorize mais aonde o mistério se desenrola. Para quem está mais acostumado com thrillers, o livro é comum, criando uma linearidade que nos passa a impressão de que ele apenas acontece, sem uma emoção maior ou uma ligação com os personagens.

Aliás, poucas vezes encontrei um detetive tão apático como nesta leitura. Sabe aquelas pessoas bem sem sal? Pois então, nosso personagem principal Adam McAnnis, que deveria ficar enfurecido por ter sua paz abalada ou sedento para encontrar um criminoso, acaba agindo de uma maneira tão normal que passa até a impressão de não ser algo real.

Fico com um grande sentimento de pena quando este tipo de situação ocorre, já que a ideia do livro me parecia muito interessante. Tínhamos um cenário muito legal, e original, com uma premissa de enredo bem atrativa, em um estilo onde estas duas situações se encaixariam muito bem, visto todo sucesso que Agatha Christie conseguiu com os cozy mysteries

A coisa não ir para frente sempre me passa a ideia de que faltou capacidade ao escritor, então fui pesquisar mais sobre ele. Não apenas vi que Os Pecados de West Heart era seu primeiro livro, como também descobri que Dann McDorman trabalha como roteirista de séries para televisão, e isto explicou boa parte do que aconteceu para mim.

Roteiros que dão certo na televisão, muitas vezes não acontecem na literatura. Nos livros precisamos de viradas mais impactantes, principalmente porque elas acontecerão menos vezes. Na TV podemos ter mais reviravoltas, em alguns episódios de séries temos quase o dobro do que vamos encontrar em um livro, porque esta ambientação está sendo vista em meio aos acontecimentos da trama. Em outros casos, vemos uma história simplesmente ser contada de uma forma reta e linear, apenas sendo exposta ao espectador, onde pequenos acontecimentos já servem para atrair a atenção de quem assiste. 

Nos livros precisamos de mais impacto, de uma maior conexão, com uma extensa explanação sobre o que irá acontecer e uma emotividade ainda maior quando o ápice da história se apresenta. E é isso que falta em Os Pecados de West Heart, não temos impacto, a coisa apenas acontece e talvez, para a TV isto fosse o suficiente.

Avaliação: 4 de 5.

  • West Heart Kill
  • Autor: Dann McDorman
  • Tradução: Jaime Biaggio
  • Ano: 2024
  • Editora: Intrínseca
  • Páginas: 272
  • Amazon

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