Livrai-nos do Mal – Rose Wilding

31 de dezembro de 1999, sete mulheres estão reunidas em um quarto de hotel vendo a cabeça de um homem. Todas elas tinham motivos para desejar a morte de Jamie Spellman, mas neste momento, elas juram que não o mataram. Contudo, uma delas está mentindo. Quando a detetive Nova começa a investigar o caso, as conexões entre elas convergem e seus segredos começam a ser revelados. Elas precisam se proteger para que a assassina não seja descoberta pela polícia, mas para isso a verdadeira assassina precisa se assumir entre elas.

Os capítulos de Livrai-nos do Mal são curtos e divididos entre as visões de todas as mulheres, inclusive da detetive Nova. Isso deixou a leitura bem dinâmica e fluida. Assim, entre passado e presente, vamos construindo a teia de relações e acontecimentos entre elas e o morto. Com isso, aos poucos, vamos conhecendo a vida de cada uma das personagens.

É extremamente interessante ver o modo com elas se comportam após o crime. A autora consegue fazer com que todas sejam suspeitas em pelo menos um momento. A narrativa no passado ajuda a fortalecer teorias e a mudar de suspeita o tempo todo. Eu fiquei muito envolvida com a trama.

Eu gostei muito da leitura, pois por mais que todas tenham sido enganadas por ele, elas foram enganadas por modos diferentes. Acompanhar o que essas mulheres sofreram na mão de Jamie foi me deixando com raiva durante a leitura. Outro fator que fez a leitura fluir super rápido, pois eu fiquei obcecada para saber quem tinha matado ele. Relacionado a isso, a autora mostra como um homem pode manipular uma mulher de diferentes maneiras, a autora aproveita um único ser (podre) para mostrar os tipos de violência existentes e as consequências dele sem uma mulher.

“Não falar sobre o assunto não vai mudar o fato de que aconteceu.”

Jamie é retratado como um homem bonito, simpático, mas manipulador. Ele vai violentar essas mulheres de forma física, sexual e psicológica. Ele mente o tempo todo, enrola elas de todas as maneiras. Faz promessas que não vai cumprir. Depois, elas irão perceber como foram ingênuas acreditando nele. Muitas vezes sem forças para lutar ou com seus discursos sendo invalidados por outras pessoas, elas irão assumir um papel de mulheres silenciadas.

São muitas personagens, então não podemos esperar que elas sejam muito desenvolvidas pela autora. Aqui o foco está nessas partes da vida delas: o que sofreram nas mãos de Jamie e o momento após a morte dele. Mas mesmo conhecendo somente uma parcela da vida delas, eu gostei muito de como a autora retratou cada uma. eu consegui sofrer junto com elas cada momento que elas viveram. Rose Wilding mostrou habilidade para trabalhar assuntos bem pertinentes e pesados de forma séria e trazendo o debate necessário.

Kysha é uma jornalista e ela tem ligação com a detetive do caso. Fica bem claro que ela é a mais engajada em esconder a verdadeira assassina e em plantar pistas falsas. Através de Ana, vamos ver como uma amizade também pode ser manipulada e como o gênero no mercado de trabalho até hoje prejudica as mulheres. Maureen é a tia de Jamie, ela foi responsável por boa parte da criação dele, então através dela vamos compreender como ele era como criança e adolescente. Sadia, a esposa, foi a personagem mais intrigante pra mim, eu não consegui compreender como ela aceitava os comportamentos de Jamie, mas eu tentei me pegar no fato de que ele era mentiroso e manipulador. Olive, Josie e Sarah são mulheres que caíram no encanto de Jamie e que sofrem até hoje com as consequências do passado. Acho que tudo que elas fazem na trama é, de certa forma, justificável.

Livrai-nos do Mal pode ser um livro de de suspense, contudo a trama está bem focada no drama vivido por essas mulheres, então não espere grandes investigações e até mesmo muitos momentos de tensão. Aqui, conforme a narrativa avança fica tudo muito óbvio, eu inclusive descobri quem era a assassina, mas isso não mudou nada minha experiência com a leitura. O foco do livro está nos temas abordados, nos dramas dessas mulheres e é claro na vingança.