Gulliver é médico cirurgião, mas ele também adora uma aventura. Seguindo seu instinto aventureiro, ele vai embarcar como médico em um navio. Mas após um naufrágio, ele para numa ilha com seres minúsculos. Depois disso, ele ainda vai fazer mais três viagens que o levarão para os destinos mais peculiares existentes. 

Créditos: Editora Zahar

Volta e meia, eu gosto de procurar um clássico para ler. O curioso sobre As Viagens de Gulliver é que eu sabia pouca coisa sobre ele. Sabia é claro que ele tinha virado filme e que há adaptações para crianças. O fato de ter adaptações para crianças é muito curioso, pois ele é um livro bem denso de críticas e questões mais filosóficas. Então acredito que nas adaptações, o teor “aventura do livro” deve ser o foco.

As Viagens de Gulliver foi publicado em 1726, mas seu nome original era Viagens a diversos países remotos do mundo, em quatro partes, por Lemuel Gulliver, a princípio cirurgião e mais tarde capitão de vários navios. Somente em 1735 teve seu nome alterado. Essa edição da Zahar vai começar com um texto de apresentação maravilhoso. Assim, ele já te prepara para as questões do livro, pois ele não é somente uma história no estilo relatos de viagem. Jonathan Swift faz aqui uma sátira para criticar a Inglaterra, a monarquia, o progresso, a ciência e o olhar arrogante do colonizador. Outro ponto interessante é que o autor colocou um micro resumo dos capítulos no início de cada um. Então, assim, já sabemos o que vai acontecer nele. 

Na primeira viagem de Gulliver, ele vai parar, depois do naufrágio de seu navio, na ilha de Lilliput, terra de seres diminutos de 15 centímetros. Depois de acordar amarrado no chão, Gulliver logo decide conhecer esse povo e explorar tudo sobre a ilha e a comunidade dali. É interessante ver a relação que o autor faz com o tamanho desses seres, pois Gulliver ao conhecer mais os liliputianos e seus problemas, vai achar tudo muito pequeno e insignificante, com problemas que ele não considera temas importantes. Aqui vamos ver a semelhança do local com a Inglaterra da época. Além disso, há um desentendimento entre dois povos da ilha sobre qual seria o lado certo para quebrar um ovo. Aqui mais uma vez o autor está fazendo críticas a pessoas, partidos e povos que se desentendem pelos motivos mais banais. 

Já, na segunda viagem, depois de ser abandonado por sua tripulação, ele para em Brobdingnag, uma terra com seres gigantes,. Assim, ao ver de perto a figura humana em dimensões bem maiores, ele vai ver o pior que temos. Tudo pra ele vai ser nojento, pois ele vai ver os poros, feridas e outras coisas numa visão bem mais ampliada, causando repulsa. Só que aqui, como ele é pequeno, ele vai ser tratado como brinquedo pelos gigantes. Nessa terra, o autor vai aproveitar para explorar muitas questões políticas. E assim, Gulliver vai perceber que há diversas falhas no sistema político de seu país. 

Na terceira viagem, depois de seu barco ser atacado por piratas, Gulliver é resgatado por uma ilha voadora. Nessa parte, ele vai passar por cinco lugares: Laputa, Balnibarbi, Glubbdubdrib, Luggnagg e Japão. Em Laputa é muito interessante como o autor explora questões envolvendo às artes musicais, matemáticas e astronômicas. Já em Balnibarbi, o autor aproveita para satirizar a ciência. Ele faz isso de uma maneira bem engraçada mesmo, mostrando os habitantes desse lugar fazendo as pesquisas mais apuradas. Nos outros países, ele ainda vai discutir história (Glubbdubdrib) e imortalidade (Luggnagg). 

Na quarta e última viagem, Gulliver é abandonado mais uma vez pela tripulação e vai parar no país dos Houyhnhnms, uma raça de cavalos falantes. Lá, ao contrário dos outros destinos, a raça humana que ele encontra é primitiva e selvagem, eles são chamados de Yahoos. Como os seres inteligentes aqui são os cavalos, Gulliver passa a morar com eles. Gulliver passa morar na casa de um dos Houyhnhnms, e passa a admirar e imitar a eles e ao seu estilo de vida, rejeitando a humanidade como Yahoos com um pouco de razão, que eles usam apenas para exacerbar os vícios dados a eles pela natureza. Gulliver se apaixona pelo lugar e se encanta pela sabedoria dos cavalos. O autor vai colocar diálogos maravilhosos fazendo paralelos da Inglaterra com a terra dos Houyhnhnms. Os cavalos não vão conseguir compreender as leis nem a política do lugar do qual seu visitante vem, achando que tudo é feito para dificultar a vida das pessoas. Acaba que Gulliver nem quer voltar para casa.

Gulliver passa de quatro a cinco anos em cada viagem, mas o mais louco é que ele tem família, mal vê seus filhos crescerem. E sua esposa fica à sua espera como se ficar anos longe de casa não fosse um problema. É importante destacar que vemos como o comportamento, as falas e o posicionamento de Gulliver mudar de acordo com o lugar que ele está. Mas é muito engraçado que ao ser sincero sobre seu país, o próprio médico começa a questionar as normas de onde vive. Eu confesso que foi uma leitura lenta e com muitas partes mais chatinhas, mas também achei bastante interessante. O autor não faz muitos rodeios e percebemos sem dificuldade todas as críticas que ele faz. 

Viagens de Gulliver é um retrato satírico da civilização humana, suas relações e instituições marcadas pela hipocrisia, pelo preconceito e pela ganância.

Avaliação: 3 de 5.

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