O pai de Frances McGrath tem em casa uma galeria de fotos de homens da família que serviram ao país em diferentes guerras e para ele, esses homens são considerados heróis. Assim, Frankie cresceu escutando que quem serve ao seu país é um herói. Sua vida ganha um novo rumo, quando ela vai escutar do amigo de seu irmão que mulheres também podem ser heroínas. Essa frase fica com ela. E quando seu irmão vai servir no Vietnã, num momento de impulso, ela resolve se juntar ao Corpo de Enfermagem do Exército.

Assim, nossa protagonista, se junta a enfermeiras e médicos para viver um cenário de caos e dor. Frankie achava que esse podia ser o pior a se viver até voltar para casa e encontrar um outro tipo de caos: o país está dividido politicamente e sua família não dá o devido valor aos seus serviços prestados na guerra. 

Ano passado, eu li pela primeira vez um livro da Kristin Hannah, Os Quatro Ventos. O livro se tornou a minha melhor leitura de 2023. Sendo assim, eu não podia perder a oportunidade de ler o lançamento desse ano da autora. Minha segunda leitura, e a segunda vez que Kristin Hannah tira muitos sentimentos de mim. Obviamente, um novo 5 estrelas.

Eu gosto muito de histórias que tenham como contexto guerras e gosto mais ainda quando o foco narrativo está nas consequências que a guerra deixa nas pessoas que viveram esse terror de perto, um dos pontos desse lançamento. Lembrando que não há necessidade de estar em campo, para estar na guerra. Todas as pessoas, mesmo indiretamente, também sofrem.

“Era a única coisa que podia fazer por ele naquele momento, ser a garota que o rapaz nunca tivera lá fora.”

Um dos tópicos levantados pelo livro é a ideia de quem vive uma guerra vira herói, principalmente se for homem. A pessoa foi lá, representou seu país, lutou por ele, dando seu melhor. Sendo assim, sobrevivendo ou não, ela é um herói. Contudo, não podemos esquecer que, mesmo com muitas pessoas tentando esconder e negar, as mulheres tiveram papeis cruciais em muitos conflitos. Eu mesma já li muitas outras obras que mostram mulheres como protagonistas nas mais diversas guerras. Aqui, Kristin Hannah mostra como as pessoas negavam os papeis das mulheres durante a guerra, deixando as glórias e a assistência aos sofrimentos somente para os homens. 

Há outro tópico aqui relacionado a isso, o modo como a família de Frank encara sua ida até o Vietnã, e depois, quando ela volta, machucada, sofrida e cheia de traumas. Além de ser vista como heroína por seu pai, Frank gostaria que seu pai reconhecesse tudo que ela viveu, dando espaço para que ela compartilhasse sua dor. Contudo, ela vai encontrar resistência dos pais e até mesmo uma espécie de apatia deles em relação aos seus sentimentos. Eu, assim como a protagonista, fiquei incrédula e triste com toda a situação.

“É difícil ser mulher em um mundo de homens, mesmo quando a gente está trabalhando pela mudança”

Frankie se mostra uma mulher determinada, inteligente, sensível e muito corajosa. Ela chega ao hospital sem saber nada, mas dá tudo de si e rapidamente aprende, ajudando a salvar muitas vidas. São momentos bem dolorosos e de muito caos dentro do hospital. Eu ficava imaginando que nada deve ser suficiente para descrever a realidade de quem viveu algo parecido. Além disso, a autora deixa claro a importância dessas pessoas serem voluntárias. Não foram só as tristeza vividas por Frank que acompanhamos, ela fez amizades e conheceu um amor. Tudo isso também deixou marcas profundas, ela viveu intensamente esse período. 

Sendo assim, eu divido As Heroínas em dois momentos, o primeiro de Frankie trabalhando no hospital, atendendo os feridos, e o segundo, ela de volta aos EUA. Voltar desse cenário de caos e morte não é fácil para ninguém, e muitas pessoas sofrem de depressão após viver tanto sofrimento. Gostei muito de como Kristin Hannah trabalha esse tópico. Ela faz tudo de forma orgânica e vamos vendo aos poucos que o comportamento de Frank não estava dentro da “normalidade”. Mais importante ainda é ver que a autora relaciona isso com a realidade de outras pessoas que também voltaram do Vietnã.

Hannah aproveita para trazer fatos reais envolvendo a Guerra do Vietnã e o modo como os resultados da guerra eram propagados pelos Estados Unidos, eram muitas mentiras políticas, que só vieram à tona com as voltas dos soldados sobreviventes. Aqui também temos um envolvimento de Frankie com outros sobreviventes como forma de busca de superação, conhecer e se unir a pessoas que sofreram o mesmo que ela foi muito importante. Ter ao seu lado alguém que a entende, pois viveu as mesmas coisas pode ser ainda melhor para superar as dores. Ela queria esquecer o que viveu, mas antes precisava falar sobre, por isso foi muito difícil ver as pessoas que ela conhecia negando sua participação e de outras mulheres na guerra.

Em As Heroínas, Kristin Hannah mostra como livros sobre conflitos de guerra nunca ficam velhos e são sempre importantes. Com personagens cativantes, uma história envolvente e trazendo fatos reais, a trama honra todas as mulheres que se colocaram em perigo na Guerra do Vietnã.

Avaliação: 5 de 5.

  • The Women
  • Autor: Kristin Hannah
  • Tradução: Natalia Sahlit
  • Ano: 2024
  • Editora: Arqueiro
  • Páginas: 416
  • Amazon

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