Serpentes e Serafins é o novo livro do autor Enéias Tavares, lançado pela Darkside Books em 2024.
Diferentemente de Parthenon Místico e Lição de Anatomia, que fazem parte da série steampunk Brasiliana Steampunk, Serpentes e Serafins nos apresenta algo completamente novo.

Em Serpentes e Serafins, conheceremos Alex Dütres, um comerciante de arte sacra, um tipo de arte que tem como objetivo promover a fé. A ironia aqui é que Alex é ateu, mas, até chegar a esse ponto, ele perdeu os pais muito cedo e foi criado por um tio padre, portanto, dentro da rigidez da religião cristã. Mesmo assim, ele não deixou de ser uma pessoa que busca respostas.
Sabendo disso, acompanharemos Alex em uma viagem do Brasil a Berlim, quando ele precisa visitar a viúva de um colecionador de arte. No assento ao seu lado no avião, senta-se um anjo chamado Barachiel, que, depois de tentar convencer o cético Alex sobre sua existência, começa a contar suas reais intenções ao estar ali.
Essa leitura é dividida em encontros. Alex terá quatro grandes encontros ao longo da narrativa, com seres e pessoas que mudarão para sempre sua vida. É por meio desses encontros que ele se aprofundará no cerne de questões como a origem da vida, a história da humanidade, o existencialismo, a evolução, a religião, mitos e lendas que explicam o que é ser humano, o que é (sobre)viver e o que são todas as coisas que compõem nossa existência ao longo dos séculos.
Claro que um dos grandes elementos deste relato é também a presença da arte. Em todo o livro, serão referenciados eventos históricos (e aqui Enéias brinca muito com a linha entre o que é real e o que é ficção) e culturais, como a arte em geral, por meio de escultores, poetas, músicos, autores… Enfim, é realmente um livro muito rico culturalmente, em conhecimento, o que não me espanta nem um pouco vindo de um autor como Enéias Tavares.

Além deste ponto alto da narrativa, o que mais despertou minha curiosidade ao longo da leitura foi o debate sobre a existência de um Deus, seja ele da religião que for; essa não é a questão aqui. A questão é o debate sobre a existência de um ser supremo que criou tudo, mas que aparentemente nos abandonou. E aqui está a segunda grande sacada: será que realmente nos abandonou? Quem tem fé em sua volta receberá mais misericórdia?
E, apesar de eu entrar neste debate aqui nesta resenha, esse livro está longe de ser um livro cristão ou algo do tipo. Pelo contrário, durante a leitura, ele me lembrou bastante Um Cântico para Leibowitz, do autor Walter Miller Jr., uma história que também fala sobre a humanidade e o declínio humano, mas que, principalmente, discute a importância da preservação da história, da nossa história. Este livro é uma ficção científica, enquanto Serpentes e Serafins traz um viés mais bíblico, sob um olhar científico da criação, com elementos místicos.
Essa foi uma experiência de leitura bastante prazerosa, mais do que eu imaginava, porque gosto muito de conhecer coisas novas, principalmente aquelas baseadas em fatos, e aqui Enéias traz exatamente isso: personagens reais, lugares reais, brincando com o que é mito e o que já foi contado tantas e tantas vezes até virar verdade.
Entrevista com o autor Enéias Tavares
Concluo esta recomendação deixando a coluna do autor no site da Darkside, onde ele detalha minuciosamente algumas das várias referências que aparecem no livro. Se você é o tipo de leitor que gosta de pesquisar nomes de grandes figuras e cenários reais conforme o autor vai nos mostrando, pode ser uma ótima dica.
Fica aqui a minha recomendação para quem curte esse tipo de história que questiona o leitor e o faz refletir sobre questões de existencialismo, criação e nossa constante busca por respostas. Serpentes e Serafins é um livro profundo, questionador e com tantas camadas que eu só posso deixar aqui a minha recomendação.

- Serpentes e Serafins
- Autor: Enéias Tavares
- Tradução: -
- Ano: 2024
- Editora: Darkside Books
- Páginas: 304
- Amazon