Uma atriz trans, muito famosa e linda, é casada com um advogado gay. Os dois têm um filho pequeno de seis anos, que foi abandonado e é soropositivo. Essa família vive uma relação complexa, o casamento é aberto e a dinâmica familiar não é como as convenções da sociedade mandam. A rotina e tudo que eles vivem como indivíduos transformam e moldam essa família.
Eu quis ler esse livro por causa de outro livro, O Parque das Irmãs Magníficas, de Camila Sosa Villada. Além disso, é claro, a premissa do livro é o suficiente para despertar a curiosidade de qualquer um. É muito gratificante quando não sabemos quase nada sobre o enredo e encontramos uma trama complexa que mergulha profundamente nas possibilidades do amor em meio às limitações impostas pelo preconceito e pela sociedade.
O primeiro ponto positivo da obra é o tema família. Aqui os papeis impostos pela sociedade quando o assunto é família ganham outra dimensão. Quase nada nessa família pode ser considerado convencional, contudo eles têm o mais importante: eles funcionam dentro do que eles acreditam ser melhor pra eles. O que importa o que a sociedade acha respeitável quando é você que está vivendo sua própria vida e tentando ser feliz da sua maneira?. Eu pensei muito nisso enquanto lia esse livro.
“Uma travesti sem passado. Uma Travesti que não só escolhia seu nome e gênero, mas também o tipo de história que a fundava. Aí estava seu espetáculo.”
A escrita de Villada é cativante e ágil, combinando uma abordagem direta com uma poesia equilibrada. Sua capacidade de transitar entre temas complexos, como amor, desejo e configurações familiares, sem transformar o texto em um debate explícito, é impressionante. Outro aspecto marcante é a forma como Villada aborda a sexualidade de seus personagens. Sexo, desejo e a rebeldia dos corpos surgem como elementos profundamente políticos, desafiando normas e expectativas.
Durante toda a leitura, confrontei meus pensamentos com as atitudes e falas das personagens. Por mais livre de preconceitos que achamos que somos, uma nova situação, uma nova realidade vai sempre nos colocar numa posição em que precisaremos rever o que achamos ser certo e errado. Essa leitura é realmente um exercício de empatia.
Não consegui passar incólume sobre a leitura de “Tese Sobre Uma Domesticação”. Tem outro ponto importante dessa leitura pra mim, depois de algum tempo do livro lido, minhas opiniões sobre ele amadureceram e sua história cresceu para mim. Minha realidade pode não estar próxima da realidade desses personagens, contudo, o que aprendi com essa leitura vai comigo para sempre.
