Um verão, um acampamento, duas vidas entrelaçadas e tantas histórias que apenas um verão com amigos pode proporcionar. Bem-vindo ao Acampamento Andorinha, onde Iúri Koviev e Vladímir Davýdov podem ser mais que apenas seus nomes e patronímicos, onde passam a se conhecer verdadeiramente, como são, como nasceram pra ser, aprendendo com seus medos e deixando de lado muitos deles para alcançar a felicidade.

Jovem, atemporal e nostálgico. Seriam essas as três palavras que melhor descrevem o acampamento Andorinha, lar de verão de crianças da União Soviética em períodos onde o amor entre iguais ainda era mal visto, nada aceito e com riscos absurdos para sua integridade física, psicológica e familiar. Mas ainda com todos os riscos, a ingenuidade e inocência que só o primeiro amor é capaz de trazer, Iúri Koviev se viu frente a frente com aquele que seria, não apenas um grande amigo, mas um grande amor, o monitor da tropa cinco, o rapaz que fora escolhido para dirigir a peça de teatro. O certinho, educado e inteligente Vladímir.
“Ele segurou os ombros de Volódia, chegou mais perto, fez uma pausa breve e encostou os lábios nos dele.”
Proibido, escondido e temido. Esse é um romance típico de jovens que sequer sabem ainda como seria de fato um beijo de verdade, tampouco o que arrepiar com a proximidade da pessoa amada significa. Puro e casto, apesar de em dado momento dar a entender algo a mais. Repleto de amizade, companheirismo, história de terror a noite nos dormitórios, ensaios, música e descobertas.
Trazendo o preconceito da época (preconceito esse que sabemos ser ainda muito vivo nos dias atuais), a história nos dá o ponto de vista de uma pessoa que não tem medo de querer ser quem é, enquanto se apaixona por alguém que, devido sua orientação sexual, se acha um monstro, um pária. Põe à vista do leitor as atrocidades que faziam com jovens que não seguiam um relacionamento e uma postura heteronormativa, como as clínicas de cura e experimentos com remédios para que causasse repulsa ao pensar em relacionamentos com alguém do mesmo gênero.
“E tudo que aconteceu a seguir perdeu a nitidez e a importância. Iurka não sabia, não percebeu quantas horas tinham passado, onde estava e o que fazia, não tinha consciência de si próprio.”

Verão do Lenço Vermelho é um romance, ainda assim, de formação, nos guiando a dias lado a lado dos protagonistas, nos fazendo torcer, almejar por cartas trocadas no fim do acampamento, por beijos escondidos atrás de árvores e por apertos de mão para que não se sentissem afastados. A narrativa mescla acontecimentos passados com o atual, onde vemos que Iúra ainda não superou o verão no acampamento, precisando voltar ao menos mais uma vez para quem sabe desenterrar o que ficou por lá, ou sepultar de vez suas lembranças e emoções.
Esse é um livro um tanto longo em algumas partes, o que pra mim deu uma freada na leitura, fazendo com que, de certo modo, perdesse um pouco do interesse, mas não que me fizesse deixar a história totalmente de lado. Também não acho que continuações sejam necessárias, o livro conta com mais dois volumes, totalizando uma trilogia.
O final que nos é entregue aqui é bem fechado, dando também para aqueles que não vão ler a continuação, a ideia de que realmente algo foi encerrado. Em resumo, esse é um livro que fala sobre amizade, romance, cartas e a esperança de que em anos futuros a vida seja mais leve e feliz. Uma leitura para quem busca um romance de verão, um amor impossível, uma aventura ou até mesmo uma ideia de como era a união soviética e como foi recebido por lá temas como LGBT e AIDS. Um livro para quem gosta de saber que mesmo com os anos, certas histórias de amor são eternas, funcionando ou não.

- Лето в пионерском галстуке
- Autor: Elena Malíssova e Katerina Silvánova
- Tradução: Yuri Martins de Oliveira
- Ano: 2024
- Editora: Seguinte
- Páginas: 464
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