Se você é um aficionado por scifi, provavelmente já ouviu essa sentença antes. No entanto, não é sobre Star Trek que essas próximas palavras irão dialogar, mas sim, de uma das leituras mais curtas e mirabolantes que, muito provavelmente, você irá desfrutar.

Espaço. A última fronteira.

Na distante imensidão do cosmos, uma raça alienígena desperta, principalmente, a curiosidade de um ser humano. Um cientista. Um homem que dedicou sua vida inteira aos volcryn, nome dos misteriosos seres extraterrestres. Karoly d’Branin parte em uma exploração afim de desnudar a camada de segredos que envolve estes seres. Mas o que irá encontrar?

George R. R. Martin, autor da série As Crônicas de Gelo e Fogo, nos apresenta uma curta novela que é a perfeita simbiose entre ficção científica e elementos de terror que fazem jus ao gênero. Afinal, existe limite para satisfazer a curiosidade humana? Ou tudo é permitido?

Publicado originalmente em 1980, temos nesse “horror scifi”, além da escrita coesa, bons elementos e personagens que inspiraram a adaptação para série através do canal americano Syfy que, infelizmente, alterou componentes demais tendo baixa audiência e, por fim, seu cancelamento. Ao longo da leitura, pude identificar essas alterações feitas e constatar que o original é de longe melhor e mais imersivo que a história apresentada na série. Mas, irei me focar apenas no livro.

Aqui, temos de cara, um apanhado histórico breve feito pelo d’Branin, cientista chefe da expedição, que passa a narrar os acontecimentos como em um diário para a posteridade. Em nenhum momento é explicado o que são os volcryn, raça alienígena que ele é tão sedento em encontrar, mas seu mistério é muito bem trabalhado e por vezes o leitor se pegará fazendo associações com outros livros que trazem o tema de forma similar.

Junto ao já idoso d’Branin, temos sua equipe de cientistas composta pela mais variada junção de homens, mulheres e suas ocupações – como exobiólogo, telepata, psicóloga, exotécnica e especialista em cibernética – que partem rumo às estrelas em uma nave espacial tão distinta quanto seu próprio capitão.

…a nave que d’Branin fretara para sua missão era grande demais, e com um design muito peculiar. Assomava sobre eles – como três pequenos ovos lado a lado, com duas esferas maiores abaixo, em ângulos retos, e o cilindro do tubo de empuxo no meio, com canos conectando tudo. A nave era branca e austera.

A primeira impressão que você terá é que a nave não é feita apenas de metal e fios condutores, mas sim de alguma energia pulsante que se assemelha, de alguma forma inexplicável, aos seres que nela acabaram de embarcar. Seja pelo mistério envolvo no capitão Royd Eris, que só aparece através de hologramas, ou pelo fato de não haver tripulação. Apenas o capitão e os nove cientistas são os habitantes da embarcação e é nesse momento, já no começo da história que tudo que eles conhecem passa a ser desconhecido.

Martin usa e abusa no entrosamento entre os personagens, havendo flertes, envolvimento físico e psíquico desde as primeiras páginas. O que para mim desviou sutilmente a premissa do livro, mas não a ponto de prejudicar a leitura. Quando os integrantes da missão passam pela primeira fase de conhecimento, nota-se de forma cada vez mais envolvente os mistérios que cercam o capitão e sua nave Nightflyer e é aí que a verdadeira história se desenrola.

Estamos em perigo, estou captando isso. Algo alienígena, que quer nos afetar. Sangue, vejo sangue.

Gradativamente, pelo menos um mistério é revelado a bordo da nave e a sensação ao ler esse desenrolar é bastante similar ao clima tenso no filme Alien onde uma criatura pode muito bem aparecer onde você mesmo imaginar. Contudo, não é necessária uma raça alienígena para que sangue e cadáveres passem a figurar uma história e é exatamente um dos focos presentes neste livro.

A edição da Suma é tão primorosa e enigmática quanto a narrativa em si, repleta de ilustrações que fazem jus aos filmes mais tenebrosos de scifi e situam o leitor dentro da Nightflyer, a despeito da vividez com que retrata o aspecto físico dos cientistas que fazem parte da expedição.

Muito mais que uma novela sobre raças alienígenas e exploração espacial, estas páginas apresentam ao leitor as diferentes interações, reflexos e atitudes que fazem parte do caráter humano. A leitura passa a ser cada vez mais eletrizante conforme vamos desvendando alguns enigmas e descobrindo outros ainda mais mirabolantes.

Unindo o melhor dos dois mundos, Martin soube trazer um livro envolvente que permite ao leitor sonhar com a exploração espacial, desejar conhecer seres extraterrestres, temer pelo desconhecido, ansiar pelo toque de outro corpo, enlouquecer com o confinamento e almejar o conhecimento entre as estrelas. Infelizmente, a história é muito curta e algumas teorias ainda permaneceram soltas no vazio. Afinal, o que eram os volcryn? De forma alguma explicado claramente, cabe a nós filosofarmos sobre quem seriam esses seres e se eles realmente ainda existem ou são apenas a lembrança de uma raça há muito perdida entre galáxias.

No mais, é um livro bastante interessante e envolvente que agradará os fãs mais exigentes de ficção científica como também aqueles que apreciam atmosferas tenebrosas e cheias de mistério. Por fim, somos seres únicos em nossa essência ou o caráter humano pode estar presente em outros meios de vida? Existiria outras formas de vida na vastidão do universo?

  • Nightflyers
  • Autor: George R. R. Martin
  • Tradução: Alexandre Martins
  • Ano: 2019
  • Editora: Suma
  • Páginas: 144
  • Amazon

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