Cheguei ao livro O Irlandês através de um influenciador gaúcho chamado Maurício Saldanha, que antigamente participava do renomado Rapaduracast, ele é sem a menor dúvida o cara que melhor fala sobre cinema, com opiniões sinceras, claras, muitas vezes emocionadas, e que faz vídeos diretamente do seu celular. Enquanto anunciava a data para seu público, Mau, falou de toda sua expectativa, já que ele havia lido o livro há algum tempo e adorado a história, mostrando inclusive seu exemplar e explicando do que se tratava.
Na mesma hora entrei na Amazon e comprei, e em pouco tempo meu exemplar estava em minhas mãos, mas fui lê-lo somente após o lançamento do filme, e senhoras e senhores, que livro! Uma das melhores narrativas, com um realismo absurdo, cheio de detalhes únicos que fazem um livro ser muito especial.
Falado tudo isso, minha vontade de ver o filme foi ao chão, na minha opinião, era impossível o longa ser melhor que o livro, porém Scorsese é um monstro do cinema e qualquer um de seus filmes vale a pena ser assistido, aliados a ele, o filme ainda conta com atores do quilate de Al Pacino e Robert De Niro, é muito convidativo, não? Assisti, e não me arrependi, são três horas que passam voando, com atuações épicas e uma bela fotografia, temos uma história até então simples, mas que nas mãos e olhar de Scorsese ficou ainda melhor.
O Irlandês conta a história real de Frank Sheeran, um dos maiores matadores da máfia americana durante as décadas de 50, 60, 70 e 80, o homem que matava aqueles que ficavam no meio da ambição dos contraventores mais sanguinários do país, ajudando-os a conquistar tudo o que desejavam.
O livro que deu origem ao filme é uma reportagem épica de Charles Brandt, um jornalista americano que durante toda sua carreira buscou assiduamente uma entrevista com Frank, querendo perguntar-lhe sobre seus crimes, e à beira da morte, o Irlandês aceita lhe dar a entrevista, revelando a ele coisas que jamais falara se quer para sua família.
O filme está concorrendo ao Oscar em nada mais, nada menos, que 10 categorias, dentre elas a de Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator e Melhor Ator Coadjuvante, sua Importância para a história da indústria cinematográfica é algo inimaginável, a Netflix, que chegou revolucionando a maneira como se assiste tv, prova que seus filmes se quer precisam passar no cinema para que concorram a maior premiação da categoria (o longa precisou sim ficar em cartaz nos Estados Unidos, por uma semana, só para se tornar elegível ao Oscar).
Acima da belíssima atuação de De Niro, como Frank Sheeran, Al Pacino, como Jimmy Hoffa e da fotografia incrível, o maior trunfo, e talvez maior qualidade do filme, é o fato de quebrar paradigmas, é o peso histórico que ele tem para o cinema. Torço muito para que O Irlandês leve algumas estatuetas para casa, que desbanque algumas produções dos grandes estúdios, pois isso seria uma vitória não só de De Niro e Scorsese, seria a tecnologia vencendo, a evolução mostrando que o entretenimento mudou. Agora o imediatismo humano faz com que as coisas mudem a cada ano e o cinema precisa mudar também, isso não é uma questão de dinheiro, isso é serviço, é o espectador sendo colocado em primeiro lugar.
No início desta “crítica”, falei que preferia o livro, e até agora só falei bem do filme. Pois bem, o livro tem um detalhe que a tela da TV não passa para o espectador, a maneira como Charles Brandt descreve seu papo com Frank, isso é algo indescritível, que conduz o leitor ao ápice do que é a experiência literária, o jornalista praticamente transcreve as fitas de áudio que gravou das conversas, incluindo no decorrer da obra, inclusive os pontos aonde Sheeran acaba se desviando do assunto principal, como normalmente acontece em uma conversa com amigos, isso passa um realismo para obra inigualável, além de aguçar ainda mais a imaginação do leitor.
Falando ainda sobre a narrativa que o livro transposta para o filme, ela que funciona muito bem no livro, acaba deixando o filme arrastado e é a principal responsável por ele durar mais de três hora e meia. Outro ponto negativo é o fato de que as atrizes acabaram ficando em segundo plano, talvez ofuscadas pelo elenco masculino, as mulheres agem como se fossem apenas “acompanhantes” de quem realmente é importante no filme. Apesar de estarem presos a obra original, acredito que as mulheres poderiam ter sido retratadas de uma outra maneira na obra.
O Irlandês, com produção do próprio Scorsese e De Niro, entrega um filme incrível, com um roteiro muito bem adaptado (Steven Zaillian) – e esse é um Oscar que torço muito para que O Irlandês leve -, com um elenco de peso consagrado dentro de Hollywood e com um diretor dos mais incríveis filmes de toda história do cinema, tem tudo para mudarem mais um nicho da indústria do entretenimento, eles chegaram longe.
Charles Brandt merece mais do que ninguém esse Oscar, um investigador que fez um trabalho estupendo, que acreditou em uma matéria e foi até o fim com ela. Com seu sonho, chega ao ponto mais alto do cinema, seria magnífico, e é por ele que eu mais torço.
Antes de O Irlandês, a Netflix tinha três indicações ao Oscar, só o filme teve dez este ano, que somadas às outras chegaram a 24 nomeações. O filme de Scorsese foi indicado também ao Globo de Ouro cinco vezes, que não levou nenhuma estatueta, mas chocou, atingiu em cheio os grandes estúdios e criou algo inimaginável até dez anos atrás. O que isso rendeu a eles além do ego inflado ao causarem o maior “terremoto” na indústria hollywoodiana? Dinheiro! No último trimestre de 2019, época do lançamento do filme, o número de assinaturas do serviço de streaming subiu 31%, mais de 50 milhões de pessoas assistiram ao filme, e a Netflix chegou à marca inimaginável de 160 milhões de assinantes. Um Oscar seria a cereja do bolo para um plano muito bem pensado e executado, um case de sucesso daqueles para se contar daqui há 50 anos.
Mas me conta aí, que livro você compraria para transformar em filme?
- The Irishman
- Lançamento: 2019
- Com: Robert De Niro, Al Pacino, Joe Pesci
- Gênero: Suspense, Biografia
- Direção: Martin Scorsese