Apesar de ter passado boa parte de minha infância na companhia de animações japonesas, tendo verdadeiramente me encantado por Sakura Card Captors e Samurai X, encontrado histórias interessantes e inusitadas que infelizmente não sou mais capaz de relembrar títulos ou detalhes, me deparando com clássicos como Dragon Ball e Cavalheiros do Zodíaco, além de estabelecer verdadeiro amor por Pokémon e Tenchi Muyo, não me considero a melhor pessoa para comentar sobre animes e todas as suas características e peculiaridades. Por motivos que não sei descrever ou explicar, na medida em que os anos avançavam e minha infância se transformava em sonho agradável que deixou saudade e boas lembranças, acabei me afastando dos animes, retomando a paixão somente em 2018 com a descoberta do maravilhoso Elfen Lied e, em 2019 com o tocante Violet Evergarden.
Com tudo isso, começo a delinear Violet Evergarden não por sua história – que considero simplesmente maravilhosa, sensível e delicada – e muito menos pelos possíveis gêneros em que se enquadra ou por suas características técnicas, mas sim por tudo o que ela me fez sentir, por tudo o que ela me ensinou e por todas as mensagens que transmite ao espectador!
Quando penso em todos os animes que assisti ao longo desta minha incansável jornada ao redor do sol sempre me direciono para os sentimentos que suas histórias proporcionaram ou para as mensagens que trouxeram. Alguns me fizeram rir, outros me encantaram pela inusitada mistura de elementos e outros me fizeram chorar a cada episódio. Violet Evergarden se encaixa perfeitamente nesta última categoria. Não recordo de um episódio em que não derramei uma lágrima, não fiquei tocada pelos ensinamentos e situações apresentadas ou de não ter me emocionado. Em meio a suas lições e reflexões sobre resiliência, coragem, trauma, luto, segundas chances, amor, amizade, carinho, bondade e esperança me identifiquei com cada personagem, me deixei levar por suas dores e desafios e desde então tento colocar em prática algumas das lições que essa narrativa me transmitiu.
O anime é construído de maneira a interligar a narrativa de Violet Evergarden a de diversos personagens, oferecendo histórias novas a cada episódio nunca deixando de lado um de seus direcionamentos principais: demonstrar os aprendizados da protagonista e sua busca pelo real significado do amor.
Violet Evergarden foi encontrada quando criança por um membro do alto escalão do exército de Leidenschaftlich, sendo logo entregue aos cuidados de Gilbert Bougainvillea com o intuito de que este garantisse sua utilização como verdadeira arma na guerra que se estendia contra Gardarik. A menina aprende a matar sem remorsos e se torna parte do pelotão de Gilbert, tendo como única visão de mundo as dores, traumas e distanciamento proporcionado pelo conflito armado, além de receber pouquíssimos gestos de afeto, cuidado ou amor. A única figura que realmente prezava por seu bem-estar, que desejava um futuro melhor para a menina e buscava ensinar o valor dos sentimentos, do carinho, da vida fora do exército e da guerra era Gilbert. Porém, a última missão comandada por Gilbert Bougainvillea muito mais do que possibilitar o término da guerra, tira sua vida e, durante uma explosão, faz com que Violet perca os braços.
A garota recebe próteses de prata diamantada e se recupera da última batalha, apresentando memórias confusas e desconexas dos eventos que a trouxeram até o hospital. Ao receber alta, contudo, ela é direcionada pela a cidade de Leiden, uma região pacífica onde Gilbert desejava que a menina pudesse conhecer um mundo livre da guerra, da solidão, dos traumas e maus tratos que por muito tempo configuraram sua realidade. Em Leiden ela é deixada aos cuidados de Claude Hodgins, um dos melhores amigos de seu protetor, dono da Companhia Postal CH, uma empresa de entrega de correspondências que possui como diferencial a disponibilização de funcionárias especializadas na escrita de cartas. As Autômatas de Automemórias não apenas redigem documentos, transmitem novidades e notícias para aqueles que não sabem ler e escrever, mas também recebem a responsabilidade de depositar no papel os verdadeiros sentimentos e intenções de cada pessoa, conectando por meio de palavras aqueles que se encontram distantes por posição geográfica ou por cicatrizes do passado que ainda não foram devidamente curadas.
É neste ponto que Violet Evergarden – neste caso, tanto personagem quanto narrativa – encontram o tom e direcionamento que delinearão todos os episódios do anime. Quando Violet decide trabalhar como Autômata de Automemória, muito mais do que iniciar uma jornada em busca de compreensão acerca do que realmente significa amar outra pessoa – e aqui a história me conquista por não remeter ao amor romântico, mas sim ao sentimento mais puro e belo que é amar – ela também dá início a um processo de autoconhecimento, de entendimento dos traumas e dores do passado, de imersão na complexidade de sentimentos que caracterizam o ser humano. Contudo, na mesma medida em que acompanhamos seu amadurecimento, descobertas e conexão com toda uma vida de alegrias, tristezas, sucessos, perdas, amizades e tudo o que estamos tão acostumados a viver, observamos também como sua trajetória se interliga com a de outros personagens. Sejam eles irmãos com problemas, mães que se despedem de seus filhos, jovens soldados em seu leito de morte ou princesas prometidas em casamento, cada encontro é marcado por um ensinamento para com os dois lados, demonstrando as diversas maneiras com que tocamos a vida daqueles que cruzam nossos caminhos, além dos ensinamentos que recebemos nos mais diversos e inusitados formatos.
Para além da história tocante e repleta de lições, Violet Evergarden encanta e surpreende o espectador por tratar-se de uma produção completa. Sensível e atento aos detalhes, o anime é uma harmoniosa e perfeita união de elementos que se interligam. A animação é riquíssima em detalhes, cores, texturas e sensações. Seja nas lágrimas derramadas por personagens específicos, nos belíssimos cenários, nas dobras das roupas ou cabelos ao vento, a animação conquista os olhos do espectador. Da mesma forma, a trilha sonora não se trata apenas de mero complemento à narrativa, mas sim componente essencial para garantir a imersão completa daqueles que assistem seus episódios.
No fim, posso não compreender profundamente as peculiaridades e elementos que compõem este maravilhoso mundo das animações japonesas, mas sou uma apaixonada por histórias que cativam, que nos permitem sentir, que nos transmitem preciosas lições e reflexões e Violet Evergarden é exatamente isso. Seu formato é diferente, sua linguagem pode não ser aquela que estamos acostumados a acompanhar e, é verdade que se trata de uma obra repleta de características culturais com as quais muitos não possuem familiaridade, mas seus ensinamentos são universais! É por esse motivo que vale a pena conferir o anime, é por isso que vale a pena derramar lágrimas e mais lágrimas com seus episódios. Afinal, quando uma produção é capaz de superar barreiras culturais e de linguagem, nos fazendo compreender mensagens inerentes a todo ser humano, vale a pena ouvir, ver e sentir o que ela pretende transmitir!
- Violet Evergarden
- Lançamento: 2018
- Criado por: Kana Akatsuki
- Com: Yui Ishikawa; Takehito Koyasu; Daisuke Namikawa
- Gênero: Animação; Drama; Fantasia
- Duração: 13 episódios – 24 minutos