Imagine a realidade em que o Anticristo já estivesse entre nós? A Profecia, escrito em 1976, vai falar sobre o surgimento do Anticristo em um mundo tomado por conflitos, intolerância, crises políticas e pragas. Alguma semelhança com os dias de hoje?

Na história acompanharemos a família Thorn. Robert Thorn, embaixador americano no Reino Unido, sua esposa Kathy e o pequeno Damien, um menino de quatro anos que fora trocado por apóstolos de Satã pelo verdadeiro filho do casal, que fora brutalmente assassino. Damien na verdade é filho de Satã, nascido na sexta hora, do sexto dia, do sexto mês e foi destinado a ser o Anticristo e por este motivo nunca ficou doente, quase não fala e tem aversão a igrejas.

Meu contato com A Profecia se deu primeiramente com o remake do filme, assistido inclusive no cinema, no dia 6 de junho de 2006. Na época lembro que achei um bom filme, e apesar de manter bastante viva algumas passagens do filme na minha memória, parou por aí minha história com Damien. De qualquer maneira, ao longo dos anos, sempre ouvi histórias, sobre a vinda do Anticristo e toda a questão do mal na Terra. E agora em 2020, depois da edição incrível da Pipoca & Nanquim ser lançada, finalmente vi a oportunidade de ler a história que deu origem ao longa.

Esta ideia de um vilão inocente foi uma experiência bastante ambígua para mim. Ao mesmo tempo que entendia que Damien imanava escuridão a todos a sua volta, visualmente ele é só uma criança, o que traz sentimentos conflitantes para o leitor, sentimentos estes compartilhados pelos próprios personagens, que diante o absurdo de imaginar seu próprio filho como a reencarnação do mal, começam a questionar suas próprias lógicas e sanidade.

Durante a leitura, minhas surpresas se iniciaram quando descobri que o lançamento do livro foi casado com o lançamento do filme, ou seja, no mesmo ano, ambos seriam lançados. Primeiro o livro e meses depois o filme e claro que ambos foram um sucesso. David Seltzer esteve a frente de toda a produção do filme, assim como das três sequencias lançadas após o primeiro. Aqui podemos ver a preocupação do autor em manter sua história o mais perto da ideia original possível.

Seltzer se utiliza de certo embasamento bíblico para criar sua história, informação essa endossada pelo posfácio escrita exclusivamente para a edição brasileira. O autor depois de muita pesquisa, sabia que deveria escrever sobre a cria de Satã infiltrado na política, o que nos faz pensar e muito sobre toda corrupção que existe neste meio. Uma sacada genial? Com certeza! O autor até brinca sobre ter profetizado a vinda do Anticristo à Terra, após 40 anos, ter encontrado a evidência do número da Besta, 666, no endereço do presidente Ronald Reagan em 1981 e no atual endereço do genro do Presidente Trump, na 666 Fifth Avenue. Bem… ele nos alerta, “Você foi avisado”.

Assim como outros histórias de terror que ganharam grandes produções para o cinema, existem diversas lendas urbanas sobre o filme de A Profecia que o classificam como um filme amaldiçoado, devido a relatos de funcionários da época comentam alguns acontecimentos bastante estranhos que aconteceram ao longo e após as filmagens. Todos estes relatos você pode conferir no documentário chamado The Curse of The Omen e eles variam dos mais simples e duvidosos aos mais escabrosos, como tragédias envolvendo familiares, acidentes com o diretor e atentados a bomba.

Todas as coincidências, conspirações, superstição e evidências (vindas do Livro do Apocalipse) mantém a história de Seltzer viva. Mesmo entre céticos e não céticos, é uma história presente e que por anos mantém uma nuvem obscura aos olhos das pessoas e de quem teme a vinda do Anticristo. Méritos de um bom autor? Apenas ficção? Realidade? Só você pode dizer.

David Seltzer tem a habilidade de nos manter presos a leitura, por vezes mantive o suspense construído no livro e a aflição em algumas cenas. O final vai na contramão do que esperamos de algumas histórias, mais um ponto positivo para o livro. A profecia ainda desenvolve todos os elementos geopolíticos que estavam ocorrendo na década de 70, como a negociação mundial de petróleo, desigualdade social e até conflitos entre Palestina e Israel, ou seja, além de um bom filme de terror, temos um excelente pano de fundo cultural e socioeconômico acontecendo aqui.

De forma geral, a leitura de A Profecia é fluída e bem objetiva, é um livro que você facilmente finalizada em poucas horas. O mesmo faz parte da trindade do terror, juntamente com O Bebê de Rosemary e O Exorcista, que com muito orgulho concluirei ainda este mês! Portanto, se você é fã do gênero, essa é uma leitura obrigatória.

Como curiosidade, as sequências continuam contando a trajetória de Damien na Terra, mas infelizmente não há livros para esta parte da história. Em 2006, como disse, saiu um remake do filme, lançado originalmente em 1976. O longa conta com Julia Stiles, Liev Schreiber e Seamus Davey-Fitzpatrick, interpretando Damien. Harvey Spencer Stephens, ator que interpretou Damien no primeiro filme, faz uma ponta no remake, fazendo um papel pequeno como repórter.

  • The Omen
  • Autor: A Profecia
  • Tradução: Alexandre Callari
  • Ano: 2020
  • Editora: Pipoca e Nanquim
  • Páginas: 280
  • Amazon

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