Nikki Roberts é uma psicóloga muito engajada, trata principalmente de pessoas que abusam do uso de drogas, em sua maioria pessoas famosas ou com carreiras frustradas. Mas não são só as pacientes que têm seus problemas, a própria doutora tem seus monstros internos, problemas no seu casamento fracassado, problemas com a morte do seu marido e tantas outras coisas. Apesar de tudo ela se sente superior a quem atende e se acha no direito de julgar todos, principalmente as mulheres que não se importam de ser amantes de homens ricos.
Mas quando assassinatos começam a acontecer tudo parece ligar ela aos casos, pacientes e pessoas próximas a ela começam a ser assassinadas com requintes de crueldade, com direito a terem seus corpos estripados. As pistas da polícia são mínimas, mas as que aparecem deixam a Dra. Roberts entre as principais suspeitas de ser a responsável por aqueles atos.
Em paralelo a essa história principal conhecemos fatos sobre o desaparecimento de Charlotte Clancy, uma garota estudiosa, de 18 anos, família e que está indo fazer um intercâmbio na Cidade do México para trabalhar como au pair (quem troca moradia por trabalho). Chegando lá ela se liberta das amarras da família e começa a viver uma vida escondida, se envolvendo com um homem casado e mafioso, até que desaparece. O fato ocorre 10 anos antes da história principal da Dra. Roberts e o mistério de como essas duas histórias podem se encontrar atravessa de maneira incrível o livro inteiro.
Por trás de tudo isso? Uma nova droga desconhecida e que faz pessoas se tornarem zumbis ambulantes. O quanto ela pode ser perigosa e lucrativa é absurdamente estarrecedor.

Sidney Sheldon esteve muito presente na minha infância, minha mãe, de quem herdei o amor pela leitura, era extremamente fã do autor e me lembro que ele foi o primeiro autor adulto com quem eu tive contato, antes mesmo de conhecer Conan Doyle ou Agatha Christie. O autor faleceu no longínquo ano de 2007, e mesmo 10 anos após a sua morte ele continua lançando livros, o que é simplesmente incrível e ainda se mantem como o autor mais traduzido no mundo inteiro, como pode?
Sheldon deixou vários manuscritos inacabados, imagino que algo como roteiros de histórias que ele gostaria de contar. Para encerrar essas histórias a família escolheu a escritora Tilly Bagshawe e o primeiro livro que ela dividiu com o autor foi A Senhora do Jogo, lançado pós morte do autor, em 2009.
Nos primeiros livros senti muito a diferença entre a escrita de Sheldon e o da sua pupila, confesso que não gostei da maneira como ela acabou a primeira história e isso se repetiu em algumas obras seguintes. A Viúva Silenciosa é o sétimo livro da dupla e sem dúvida, o melhor até agora. Depois de Um Amanhã de Vingança, pior livro de Sidney, lançado em 2015, eu havia aumentado ainda mais meu receio em ler os livros que tinham a mão da coautora, peguei esse novo livro sem nenhuma expectativa boa e fui surpreendido. Que livro bom! Cheio de ação desde a primeira página, com uma descrição repleta de detalhes, as cenas são extremamente bem ambientadas, você parece estar assistindo in loco ao que acontece nas páginas do livro.
Apesar de conter alguns clichês de livros policiais, como a dupla de detetives, o que odeia e quer incriminar a suspeita a todo custo e o que se compadece por ela e se aproxima, o livro não surpreende, mas a história que conta é bem amarrada e o mistério é bem desenvolvido e prende a atenção do leitor durante todo seu decorrer. A resolução do caso é bem plausível, extremamente crível, bem-feita e com um detalhe incrível. Tem um prólogo que diz o que aconteceu com a maioria dos personagens, sem deixar aquele sentimento horrível que atormenta todos leitores no final da maioria dos livros, onde ficamos imaginando o desfecho dos personagens que gostamos.
Li A Viúva Silenciosa sem pretensão, tentando apenas resgatar sentimentos bons que a leitura me proporcionou na infância, certo de que provavelmente teria a certeza de que essa dupla não deu certo e que Sidney Sheldon era bom apenas enquanto ainda estava vivo, mas tive uma maravilhosa surpresa, o livro é o melhor livro póstumo do autor e parece que a coautora conseguiu acertar a mão no complemento da obra dessa vez, fazendo os fãs do saudoso Sidney voltarem a ler algo extremamente intrigante e prazeroso, feito por ele mesmo, mais de uma década após ele ter nos deixado.
Não consigo criticar Tilly pelos resultados anteriores da parceria, não sabemos mais o que é feito por Sidney e o que é feito por ela, mas imagino que neste livro ela tenha tido mais liberdade para apresentar sua própria obra e provavelmente o autor tenha deixado apenas um esboço daquilo que gostaria criar, mas tudo são apenas especulações, já que a família Sheldon nunca deixou explícito como realmente funciona essa parceria. Mas agora passei a me interessar pela obra de Tilly Bagshawe, que além da parceria com Sidney Sheldon, tem outras obras publicadas, em sua maioria romances, o que não é nada a minha praia, mas para quem gosta fica aí a dica sobre uma ótimo autora e que tem a honra de trabalhar em cima dos manuscritos do mestre dos livros policiais.
Quem sente saudade de Sidney Sheldon ou quem abandonou o autor pelos livros póstumos serem ruins, não desistam, deem mais uma chance à essa dupla, eu garanto que não irão se arrepender, e poderão sentir todo aquele prazer em ler Sidney Sheldon novamente, depois de 11 anos de saudade.

  • The Silent Widow
  • Autor: Sidney Sheldon e Tilly Bagshawe
  • Tradução: Angelo Lessa
  • Ano: 2018
  • Editora: Record
  • Páginas: 448
  • Amazon

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