Clara tem 17 anos e está cansada de lidar com a mãe. Sempre a mesma rotina, as mesmas reclamações, as mesmas cobranças. A mãe é previsível demais e tudo o que Clara mais teme é se tornar Morgan um dia. Ainda bem que ela pode contar com o pai e com a tia Jenny. Clara não consegue entender como alguém tão sem personalidade como a mãe pode ter uma irmã tão incrível e legal quanto Jenny. A garota tem uma melhor amiga que os pais amam odiar, mas é em tia Jenny que ela confia o bastante para contar segredos e pedir conselhos. Clara tem sonhos que a levarão para bem distante dessa família, mas os pais super protetores querem controlar até mesmo sua carreira na faculdade. Se apaixonar por Miller, um garoto que seria incrível caso não tivesse namorada, também não estava nos seus planos, mas a vida tem dessas surpresas.

Morgan engravidou quando tinha 17 anos e passou a vida toda se dedicando ao papel de mãe e esposa. Ela quer dar à sua família tudo aquilo que não teve enquanto era jovem: um lar estruturado, amor e cuidado. Ela ama que Chris tenha se tornado um pai tão maravilhoso apesar de todas as dúvidas que ela teve quando precisou contar que estava grávida. Ele sempre teve um espírito jovial que combinava muito mais com Jenny, mas ele a viu primeiro e as coisas aconteceram dessa forma. Ela é grata pela família que tem, mas a cada novo aniversário de Clara, Morgan se pergunta se o que fez da sua vida foi suficiente. Ela já nem lembra dos planos que criou para si quando ainda era jovem. Mas sua vida é confortável e ela não entende por qual motivo esses pensamentos insistem em aparecer. Talvez ter Jonah de volta na família a tenha deixado desconfortável. O ex-namorado da irmã, agora futuro marido, sempre se conectou com ela de uma forma única e agora lá estão eles, cara a cara novamente.

Clara e Morgan são mãe e filha e estão lutando para fazer sua relação dar certo. As brigas são recorrentes mas sempre há alguém intermediando a comunicação. Seja Chris, seja Jenny e agora até mesmo Jonah. Mas elas precisarão lidar com os próprios problemas e será necessário aprender a se comunicar novamente depois que uma tragédia abala tudo o que elas conhecem sobre a família. Segredos perturbadores poderão ser a ruína dessa relação, mas também será a oportunidade de um recomeço que tanto essas duas mulheres precisam. Um livro que fala sobre recomeços, sobre amor e sobre perdão.


Fazia tempo que eu não lia um romance tão envolvente. Colleen é a rainha dos plot twists, mas eu continuo me surpreendendo com ela, não importa quantos livros tenha lido e nem quantos casais eu conheça, essa autora sempre consegue trazer uma história única e cheia de reviravoltas. Se Não Fosse Você se tornou um dos meus livros favoritos dela e não poderia ser diferente já que o enredo é tocante, dramático e inovador na medida certa. Os personagens são maravilhosos. A descrição, a humanidade, a percepção de realidade que cada um tem, os torna tão reais quanto eu e você. Parece que estamos lendo uma biografia, tal é a perfeição de suas nuances. Pessoas reais, com defeitos e qualidade, medos e sonhos.

Clara é uma adolescente bastante madura, mas não perdeu o tom jovem das descobertas e confusões da idade. Morgan é mãe, mas possui anseios próprios e sonhos adormecidos e está tentando se redescobrir enquanto mulher e enquanto profissional. As duas são protagonistas de sua própria história e Colleen conseguiu criar duas histórias diferentes mas com correlação entre si dentro de 397 páginas sem perder a magia, sem perder o foco do enredo principal.

Não entendo como meu corpo pode estar cheio de tudo o que nos preenche – ossos e músculos e sangue e órgãos -, e, ainda assim, meu peito parecer oco, como se pudesse ecoar caso alguém gritasse na minha boca.

As questões abordadas pelas personagens em suas reflexões são dramas sinceros, coerentes e realmente pedem a carga emocional utilizada por Colleen. Nada me cansa mais em uma leitura do que ver os personagens vivendo uma novela mexicana barata de última categoria quando claramente tudo é simples de resolver. Não acho que a história tenha sido criada para nos fazer chorar litros, não é exagerada e não tem o propósito de chocar o leitor. Colleen nos traz uma trama singela, um recorte do dia-a-dia, com doses ideais de um romance acalentador, com a renovação de um recomeço, com o alívio do perdão. Essa história é um grande exemplo de resiliência e de esperança. Virar a última página é ter um quentinho no coração e ter a certeza que nenhuma tempestade dura pra sempre.

Os romances da história são doces como só a Colleen sabe criar. Não há erotismo e esse tesão desenfreado bastante comum nos romances da atualidade não parece pautar qualquer relação criada pela autora. Sabemos que isso é uma parte importante da vida e seria hipocrisia da minha parte dizer que livros nesse estilo não estão também entre meus favoritos, mas eu amo que a autora se preocupe mais em criar conexões sentimentais do que mostrar o quanto de química um casal possui. Seus enredos são tão preciosos que a tal química nem faz tanta falta. Claro que eu queria sentir meu coração disparar no primeiro beijo do casal, coisa que alguns autores conseguem fazer com maestria, mas Colleen fala de amores maduros e pautados principalmente em sentimento e respeito. O livro também aborda o tema da traição, um assunto bastante delicado pra mim e novamente a autora aborda a questão de maneira bastante respeitosa e com toda a dor e responsabilidade que tal questão pede.

Mas você é a primeira e a única pessoa no mundo que amei sem motivo nem razão. Eu te amo porque não consigo evitar, e é um sentimento tão bom.

Eu queria poder tocar em outros pontos abordados na trama, mas considerando que qualquer outro detalhe seria um spoiler, paro por aqui. A condução da história é perfeita, envolvente e inteligente, daquelas que você não consegue parar de ler. Por não estar focado apenas no romance, mas principalmente na relação mãe e filha, você pode pensar que encontrará um desenvolvimento lento devido ao tom mais dramático, mas a estrutura do livro ajuda bastante no desenrolar da trama. Capítulos curtos narradas tanto pela mãe quanto pela filha deixaram a história dinâmica, o que facilitou e muito o ritmo da leitura. O desfecho é tão precioso quanto a obra toda em si, rico em detalhes, emoções e sentimentos. É incrível ver o quanto as relações amadurecem e o quanto o amor pode curar tanto quanto pode ferir.

A história traz lições únicas e que nos fazem refletir sobre a vida e sobre a importância de olhar para si. Talvez minha única ressalva seja sobre uma situação da história que fica sem respostas. Eu entendo a maturidade da protagonista em não querer chafurdar no lixão tóxico que ela descobriu e que certamente causaria mais dor, mas minha curiosidade agradeceria um capítulo adicional com todos os detalhes sórdidos. Tais respostas não são essenciais para o desenvolvimento da história e por esse motivo não desabona minha opinião geral sobre o livro.

  • Regretting you
  • Autor: Colleen Hoover
  • Tradução: Carolina Simmer
  • Ano: 2020
  • Editora: Galera Record
  • Páginas: 400
  • Amazon

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