Ano de 2045 e o mundo é um verdadeiro caos, muita pobreza e fome. Contudo no meio disso tudo a tecnologia está presente e muito latente da vida das pessoas, que através do jogo de realidade virtual, OASIS, tentam fugir dessa cruel realidade. Nele as pessoas podem ser quem quiser e viver como acharem melhor. É nesse mundo que cresceu Wade Watts, que agora com 18 anos, vivendo uma vida complicada ao lado de sua tia, passa a maior parte de seu tempo dentro do jogo vivendo experiências incríveis com seu avatar, Parcival.
Quando James Donovan Halliday, o responsável por criar o OASIS morre e deixa um testamento alegando que quem encontrasse o easter egg deixado por ele no OASIS, herdaria toda a sua fortuna e seria responsável pelo jogo, a vida das pessoas do mundo inteiro se transforma numa caça ao tesouro. Durante cinco anos, os “caça-ovos” fizeram de tudo para decifrar o enigma que leva até a chave que abre um portal. E são três chaves.
Contudo tudo muda quando no placar do jogo, em primeiro lugar, um nome aparece, Parcival. A caçada volta a ter gás total e todo mundo quer saber quem é essa pessoa que encontrou o maior desejo de todas as pessoas no planeta.
Eu sempre achei que por não ter lido esse livro na época do hype não valia mais a pena pegá-lo para ler. Contudo a Intrínseca chega com uma edição maravilhosa e prova que eu estava errada. Realmente se não fosse esse lançamento, eu acho que nunca teria o prazer de conhecer esse livro tão legal. Eu adorei a leitura!
Eu cresci no meio de muitos videogames por causa de meus irmãos e meus primos, sem falar que também sempre gostei de jogar, inclusive jogo até hoje. Também assisti a muitos filmes e séries dos anos oitenta e escuto até hoje canções dessa época. Com isso eu consegui compreender muitas das referências que aparecem durante a leitura. Na realidade, eu não achei elas muito complexas, fora as de videogames, o autor escolheu em muitos momentos trazer referências de grandes obras, como O Senhor dos Anéis, por exemplo.
Jogar videogames antigos sempre me ajudava a espairecer e acalmar a mente. Se eu estava triste ou frustrado com a vida, tudo que tinha que fazer era clicar no botão do Jogador Número Um e minhas preocupações desapareciam na hora…
Contudo não se preocupe em não compreender o que está acontecendo, Ernest Cline consegue entregar essas referências de forma bem explicada e não fica muito difícil para você entender o que está acontecendo e qual o objetivo dele com aquilo. Dito isso, temos o próprio mundo gamer de OASIS, que traz é claro essa construção focada nos anos 80, mas tem as suas peculiaridades. É com a escrita descritiva, mas ao mesmo tempo leve, que somos transportados para dentro do jogo junto com nosso personagem principal, Wade. Fica bem claro porque as pessoas gostam tanto desse mundo virtual e passam boa parte de seu tempo nele. Eu também passaria!
Wade Watts não tem uma vida fácil, com 18 anos e tentando sobreviver no caos que está o mundo, ele é um jovem que busca fugir da sua realidade criando uma realidade só sua dentro do OASIS. É por causa de sua vida, morando com uma tia da qual ele não tem muita simpatia, que ele decide entrar de cabeça na busca pelo Ovo de Halliday. Gosto muito do misto de esperança e dedicação que Wade tem. Mesmo cinco anos após a procura começar e ninguém ter encontrado a primeira chave, ele não desiste e está sempre estudando as referências e o livro deixado por Halliday. Eu pensei o tempo todo o quão incrível essa “investigação” seria, ficar vendo filmes, séries, lendo livros e tentando achar pistas entre eles também não parece ser uma coisa fácil. Mas é muito legal ver como o autor construiu essas ligações e como as descobertas são feitas. É realmente muito empolgante!
Mas a caçada não fica somente nessa parte de procurar easter eggs não, há muita aventura durante a narrativa. O ritmo todo do livro é muito rápido, em poucas linhas estamos resolvendo um enigma, depois fugindo de alguém e após em outro mundo dentro do OASIS. E assim eu não conseguia e nem queria parar de ler. Toda essa adrenalina também tem seus momentos de calmaria. Além disso, somos apresentados a outros personagens que são de suma importância para a trama, mas principalmente para a vida de Wade. Inclusive, é através deles que o autor vai tratar assuntos como amizade, abandono familiar, preconceito, bullying e homossexualidade. Num livro como esse é claro que temos um “vilão”, uma corporação que quer vencer o jogo custe o que custar, é claro para ganhar dinheiro através dele. E é aqui que o autor discute mais alguns temas interessantes, como a união e a ganância.
Ernest Cline conseguiu construir personagens reais e muito carismáticos. Wade é um garoto simpático, dedicado e muito sincero. Seu melhor amigo, Art3mis, é engraçado e um ótimo apoio na vida de Wade. Conforme as descobertas das chaves avançam, outros personagens se juntam a eles formando uma equipe que acabou sendo muito querida para mim. Há um romance também é claro, mas é tudo tão natural e despreocupado que eu torci muito pelos personagens. Fica bem claro que o foco não é o romance, mas sim procurar as chaves e o desafio final. Isso também deixou o livro ainda melhor.
São só elogios a esse livro, que me ganhou desde a primeira página. O livro ganhou um filme em 2018 que foi dirigido por Steven Spielberg, apesar das diferenças significativas, eu também gosto muito do filme. Feliz da vida com essa leitura, não posso deixar de elogiar a belíssima edição de luxo, que é uma perfeição só. A editora Intrínseca inclusive lançou junto o segundo volume que segue o mesmo padrão. Já estou querendo.
Não é à toa que Jogador Número Um é um sucesso. Cheio de aventuras que extrapolam as fronteiras entre o real e o virtual, Ernest Cline entrega tudo que um fã de cultura geek mais adora.
- Ready Player One
- Autor: Ernest Cline
- Tradução: Giu Alonso
- Ano: 2021
- Editora: Intrínseca
- Páginas: 432
- Amazon