A gente escuta muito sobre o amor… Nas músicas, nos filmes, nos livros, no cotidiano. A gente sabe de cor e salteado as histórias dos começos, dos primeiros olhares, dos primeiros toques, da paixão desenfreada. Muitos já se debruçaram sobre o tema, e com grande maestria nos fizeram suspirar, nos fizeram sonhar. E gastando tanta energia para prestigiar os inícios, pouca nos restou para conhecer os finais. E não conhecendo os finais, é de se esperar que eles se apresentem sempre de forma tão assustadora.
Todo mundo nos ensina a amar, mas o que a gente faz quando um amor acaba? Para onde a gente corre quando um imenso vazio ocupa tudo aquilo que foi planejado, que foi sonhado? Os questionamentos não param, e com eles vem a inquietude de tentar superar tudo o mais depressa possível. Esqueceram de nos ensinar a lidar com o desconforto. Esqueceram de dizer que o fim pode ser apenas o ponto de partida para um recomeço.
Pedro está de coração partido. A casa parece vazia demais agora que Rita partiu. Agora que ela decidiu sozinha que partiria. O combinado era eles resolverem tudo juntos. Talvez dar uma nova chance, apesar das que já haviam dado antes. Talvez recomeçar um novo ciclo dentro de uma velha história, mesmo que ela já tivesse perdido seu brilho. Pedro ensaiou tudo o que diria a Rita quando voltasse de viagem. Nas ruas de Portugal ele andava cabisbaixo pensando em como resolver o que parecia não ter solução. Na ausência de uma grande briga de casal, o rapaz não consegue entender o que aconteceu. O presente que ele trouxe na mala representava a débil esperança de um reencontro, mas o uísque nunca chegará aos lábios dela. Na mesa da sala, um bilhete de despedida. Nas paredes, a ausência dos quadros evidenciava a partida prematura e arquitetada. Pedro olha para para a gata que ronrona de satisfação pela sua chegada e se pergunta… Que motivos há para estar feliz? O que vem depois do fim?
Não houve uma grande briga, uma traição ou uma palavra dura. O responsável pelo término era o dia a dia, as pequenas coisas. Bobagens que pingavam do teto e que o balde até dava conta de segurar, em certa medida. Porém, ninguém notou o balde cheio, e a água escorreu sem pressa.
O enredo é simples e incomum. O apelo está talvez na perspectiva de ler um romance que ironicamente fale sobre a ausência dele. A trama é um recorte de uma história de amor que chegou ao fim. Nela acompanhamos um personagem com pouco carisma, que parece viver dias intermináveis de angústias, reminiscências e tédio. É obvio. Pedro tem todos os motivos para estar assim e os autores o deixaram realisticamente humano. Apesar do título propor uma espécie de boia de salvação para os términos, o texto nada tem de revelador. O conteúdo não possui vieses de auto ajuda, e nem tem a pretensão de ser. E ainda assim, é bonito à sua própria maneira. E é justamente esse o motivo pelo qual você deve ler esse livro. Bruno e Zack ressaltam a beleza em cada pequena coisa cotidiana, pois mesmo um rompimento pode trazer poesia para nossa vida. Seja no abraço de um amigo querido, seja no colinho consolador de uma mãe, seja naquela conversa de bar em que os copos nunca esvaziam por completo ao contrário do nosso coração.
Talvez tivesse sido melhor se Fabi respondesse, naquela festa em 2016: “Sim, ela namora”. Dessa forma, não existiria Rita. E, não existindo Rita, não existiria a falta dela. O amor, distraído, aconteceu em um movimento da sombra: em uma pergunta certa, em uma resposta errada. Pedro apaixonou-se por puro descuido. Ninguém o avisou de que o amor também era isso.
Apesar de não ser um livro extenso, houve espaço para que cada personagem dessa jornada se apresentasse e cumprisse seu papel. Eu não sei como os autores conseguiram fazer isso, mas eles estão de parabéns. Alguns poucos diálogos de Pedro com os amigos e com a mãe já foram suficientes para que nos aconchegássemos mais em seu circulo social e familiar. Eles não atuaram como marionetes ao redor do protagonista, muito pelo contrário, parecia que cada um deles tinha uma vida inteira alheia ao personagem principal. No virar das páginas é possível que você queira saber mais sobre eles, sobre os começos e términos deles e sobre como cada um agiria. E com esse suporte bem estruturado, a vida de Pedro ganha um novo peso, ganha brilho e força. Nas poucas páginas uma vida inteira de emoções acontece diante dos olhos do leitor e a poesia de Zack sempre presente nas linhas e entrelinhas tornam a leitura agradável e fluida.
Pedro, então, virou de costas, desceu as escadas, olhou para trás e foi embora. O amor se foi após sete degraus e alguns poucos segundos; não daria tempo de abrir um Sonho de Valsa, trocar um disco ou esperar o sinal ficar verde. O amor se foi do jeito que chegou, sem pedir permissão; abriu a porta, desceu sete degraus, olhou para trás e se foi; não daria tempo de arrumar a cama, escrever um e-mail ou recusar um beijo.
No entanto, apesar de amar cada coisinha escrita pelo Zack, senti a ausência de paixão em O Amor Vem Depois. E não, não estou fazendo trocadilho com a palavra paixão. Não me refiro ao fato de a história narrar um conto de desamor, ou reamor, ou novo amor, mas sim naquela coisas que faz a leitura valer a pena. Quando parece que o autor toca você com as palavras como quem toca alguém com as próprias mãos. Não teve intensidade o bastante. Nem para sim, nem para não. Nem para a alegria, nem para a tristeza. E talvez o livro só retrate um término saudável, sem grandes dramas ou reações exageradas. Afinal a vida não é um palco e não há holofotes o bastante para que todos sejam ovacionados no encerramento de grandes apresentações. Mas a arte sempre imitou a vida, e eu particularmente gosto de histórias que abalem minhas estruturas, que marquem minha memória, que revolucionem meus sentimentos e emoções.
Infelizmente, a obra escrita com esmero por Bruno Fontes e Zack Magiezi, não funcionou pra mim. Apesar das boas citações e da qualidade da escrita, é apenas mais um livro que passou por mim. Em alguns anos, talvez meses, eu olhe a capa dele em alguma estante e nem lembre mais do que se trata. Eu ainda quero reencontrar os autores em outras obras, em outros contextos e em outros enredos e espero que vocês se sintam da mesma forma e possam dar uma chance para a obra a despeito da opinião aqui exposta.
- O Amor Vem Depois: Uma História Sobre o Fim
- Autor: Bruno Fontes, Zack Magiezi
- Ano: 2021
- Editora: Planeta de Livros
- Páginas: 160
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