Minha Última Duquesa é um romance de época diferente. Muito distinto dos romances que já li de Julia Quinn, Lisa Kleypas ou até Loretta Chase. Daisy Goodwin conta esta história sem muito se preocupar em trazer leveza a narrativa ou qualquer artificio que possa distrair o leitor da veracidade que era um romance do final do século 19.
Isto de modo algum é algo negativo neste livro. Só o faz ter características que o classificam como um livro muito mais próximo da realidade que foi. Algo muito mais próximo dos clássicos escritos por Jane Austen, por exemplo. A autora tece sua história aos poucos, apresenta a situação, constrói os personagens, trabalha suas problemáticas e vai nos envolvendo numa trama intrincada, onde a relação dos personagens passará por diversos obstáculos. Estaremos em meio a um casamento onde a confiança precisa ser conquistada, o companheirismo precisa ser prioridade, para só então, o amor existente ser mostrar o suficiente.
Com esta introdução que conhecemos Cora Cash, a herdeira mais rica dos Estados Unidos, porém nem sempre uma fortuna significava ter tudo. Por este motivo, a Sra. Cash desejava que Cora viajasse para a Europa afim de garantir um título da nobreza, ou seja, comprometer-se em um casamento arranjado. Isso até leva a bela garota a tomar medidas desesperadas, como a de pedir para o amigo Teddy que ele se casasse com ela, mas nada adiantou. Cora acabou nos braços do inglês Ivo, o Duque de Wareham, quando, literalmente, caiu aos seus pés em um pequeno acidente.Desta forma, Como um toque do destino, o arranjo parecia perfeito. Ivo era um Duque e traria para Cora um título de nobreza e Cora traria o dinheiro que ele tanto precisava depois de pagar por dois enterros. As peças pareciam se encaixar quando ambos passaram a construir um bom relacionamento e aos poucos estarem se apaixonando.

Foi desta forma que Cora partiu para a Inglaterra, aos 18 anos de idade, para viver entre a aristocracia. Mas logo conviver com toda a futilidade e normas sociais que o novo status demandava começou a lhe causar os primeiros incômodos. Além das dificuldades encontradas em sua nova casa, Cora passou a sofrer nas mãos de fofocas e intrigas que iam e viam de acordo com seu comportamento estrangeiro. A aristocracia inglesa preza por uma vida de aparências, a sociedade que Cora está agora inserida se prova interesseira e preconceituosa, e desta forma ela descobrirá que há muito mais escondido sob sua nova vida, mas também incertezas sobre o passado de seu próprio marido.
Paralelamente ao foco que recebemos do casal principal, também acompanharemos a perspectiva de Bertha, a dama de companhia de Cora. A criada negra que, assim como Cora, chegou na Inglaterra dando o que falar. Através de sua visão, iremos ter um apanhado mais amplo sobre a recepção de Cora em seu novo país, a relação das duas como companheiras e também, é claro, as dificuldades que a própria Bertha enfrentará e o tratamento diferenciado que receberá, simplesmente por possuir a posição que exerce com cor de pele que tem.
Neste ponto, ao mesmo tempo que apreciei na história a visão de Bertha sobre a trama e os levantamentos que são destacados através do seu núcleo, no início da leitura me vi confusa sobre quem deveria receber mais a minha atenção na leitura. Demorei para entender que a protagonista ali era Cora e Bertha só complementava.
Este foi um dos motivos que conclui a leitura sentindo que a história de Minha Última Duquesa é mais extensa do que precisava. Apesar da autora ganhar pontos com o retrato que faz da sociedade, eu senti que ela se preocupou com detalhes que, mesmo que sejam interessantes, não contribuem para que o leitor se prenda totalmente no enredo principal. Ao meu ver, o romance em si deveria ser mais trabalho, mais romântico, para que quando chegássemos ao final, acreditássemos em cada vírgula que acontece.
Não sei se esta era a intenção da autora, nos apresentar a dualidade das personalidades dos personagens, mas o modo como Cora pode ser amável e injustiçada em certos momentos e também cabeça dura e mimada em outras, me renderam momentos de pura fúria. E não tem personagem que saia ileso deste julgamento, são todos humanos e suscetíveis a falhas. É por isso que mesmo apontando tudo que falei nesta resenha, ainda aprecio a leitura e lhes indico. Está aqui um livro que apresenta personagens e uma trama que pode muito bem ter existido.
É verdade que Minha Última Duquesa inicia com um relacionamento construído com base no amor, algo raro numa época onde casar por amor, era um privilégio para poucos, porém, não só isso se mostra o suficiente. Para mim este detalhe foi o grande trunfo da história criada por Daisy Goodwin. Romances de época nem sempre carregam aquela atmosfera de contos de fadas, onde mesmo que diante os caminhos mais tortuosos, o final é sempre o melhor. Há muito para se conquistar antes do “viveram felizes para sempre”, a vida nem sempre é bonita e todo casal precisa aprender com isso, independente da época em que vivem.

  • My Last Duchess
  • Autor: Daisy Goodwin
  • Tradução: Beatriz Sidou
  • Ano: 2013
  • Editora: Fundamento
  • Páginas: 376
  • Amazon

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