Ao longo de muitos anos ouvi comentários sobre a força existente na figura de Maya Angelou. Ouvi exemplos de resistência, das batalhas que travou para conquistar seu lugar de direito em meio a uma sociedade que, ainda hoje, não é capaz de compreender que a cor de nossa pele não é fator determinante para indicar quem somos, como agimos, como devemos ser tratados, onde possuiremos livre acesso e onde nossa passagem será negada.Esse exemplo de mulher é muito mais do que alguém para nos guiar em meio as mudanças bruscas nos rumos da vida, ela é um nome importante para o movimento feminista, além de ser uma mulher negra que atingiu notoriedade em meio aos mais diversos ambientes artísticos, demonstrando a luta de uma legião que, assim com ela, encontraram mais empecilhos em sua jornada do que uma mulher branca encontraria.

Cantora, atriz, dançarina, ativista, cineasta, escritora e um exemplo de figura materna, Maya Angelou sempre acompanhou minha jornada pelo universo literário através de uma distância segura, porém, quando o momento se demonstrou propício, ela se apresentou com toda a força e luz existentes em seu ser e me encantou com sua escrita adorável e acessível, me fez derramar lágrimas por todo o sofrimento que a vida lhe afligiu, me fez reviver os desafios de sua vida e, acima de tudo, me fez acreditar que no fim, todas nós somos capazes de chegar onde esta louca e insana vida nos quis desde nosso primeiro suspiro.

Ela havia me libertado de uma sociedade que me teria feito pensar que eu era a ralé da ralé. Ela me libertou para a vida. E, a partir daquele momento, tomei as rédeas da vida e disse: “Estou com você, pequena”.

Mamãe e Eu e Mamãe ressalta toda a força de Maya Angelou, mas consegue, em suas breves 175 páginas, ir muito além da biografia da autora que lhe deu origem, vindo a carregar consigo uma parte da vida de sua própria mãe, uma mulher tão forte quanto Maya, cuja personalidade cativante, conselhos preciosos, desafios diários e histórico peculiar não poderiam ser esquecidos por um mundo que, tantas e tantas vezes, se esquece das figuras que verdadeiramente deveriam transformar-se em seus exemplos.
A trajetória destas mulheres é delineada através de uma narrativa cativante e acessível, nunca escondendo, porém, as sombras que invadiram momentos específicos de suas vidas, as dores que marcaram sua história e os momentos de felicidade que preencheram seus corações e demonstraram que o amor é mais forte do que todo e qualquer desafio imposto pela vida ou sociedade.
A obra encontra-se repleta de lições, de mensagens para carregarmos por toda a vida, mas existe algo que permeia toda e cada página. A essência das palavras de Maya Angelou está baseada na relação entre mãe e filha. É o amor infinito de uma mãe que segura o filho pela primeira vez ou aquele que transborda após a construção árdua de uma relação entre mãe e filha, é a confiança existente entre as duas partes, a certeza de que, mesmo em nossas falhas e erros, teremos um porto seguro para o qual voltar e, em nossas conquistas, teremos alguém repleto de orgulho e carinho que nunca duvidou que que conseguiríamos. São os conflitos e as lembranças que guardaremos para o resto da vida, as discussões, os sonhos, alegrias e cada momento precioso que torna essa relação tão mágica e única.
Mamãe e Eu e Mamãe é uma homenagem a uma mulher forte que, em toda sua graça, luta e beleza auxiliou na criação de outra mulher forte. É o exemplo de narrativas reais que, ao serem separadas e interligadas novamente, destacam o poder que determinadas pessoas possuem na construção daquilo que somos ou viremos a se tornar. Maya Angelou é um exemplo de mulher negra e feminista e, para além da curiosidade que este livro pode gerar com relação a sua vida ou desafios que veio a superar, possibilitando que chegasse onde chegou, sua obra deveria apresentar-se como leitura obrigatória para todo ser humano.

  • Mom and Me and Mom
  • Autor: Maya Angelou
  • Tradução: Ana Carolina Mesquita
  • Ano: 2018
  • Editora: Rosa dos Tempos
  • Páginas: 175
  • Amazon

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