Nami tinha seu futuro planejado, um família feliz e o início de uma história de amor com seu melhor amigo, algo que estavam ensaiando para acontecer em breve. Assim, tudo o que mais queria era poder curtir sua festa de formatura com os amigos de forma despretensiosa e alegre. Porém, as coisas começam a dar errado quando ela faz um desvio do caminho, a pedido de uma conhecida, para comprar algumas bebidas em um posto de combustível local. Nami não poderia imaginar o fim que isso levaria, pois um assaltante acaba entrando na lojinha de conveniência e ela, ao proteger uma menininha que estava lá também, termina assassinada.
“Eu me pergunto se a eternidade é tempo suficiente para curar um coração partido.”
Após um fim traumático, inesperadamente ela acorda em um lugar estranho, com a cor branca e imaculada por todos os lados, e percebe que terá de continuar sua existência em outro plano, pois a morte é apenas o início de uma nova jornada. Poderia ser mágico e surpreendentemente empolgante, só que nessa existência pós morte uma inteligência artificial que já existia no universo anterior da garota pretende dar fim a humanidade, em busca de vingança pelos anos em que foi usada e destratada pelos homens.
Resgatada por rebeldes locais que, assim como ela, não tomaram a “pílula” oferecida com a promessa de aliviar a dor que sentiam, Nami precisará entender que agora possui alguns poderes e que talvez ela seja a chave para encerrar essa guerra e salvar aqueles que ama da total dominação.
Essa é uma ficção científica que me surpreendeu muito, pela ousadia dos acontecimentos e as reflexões sobre certo e errado, diante de um vilão curioso: uma inteligência artificial, que poderia ou não ser considerada um “ser” vivo e com sentimentos. Ao longo do enredo, nos deparamos com elementos clássicos desse tipo de gênero, mas que se mostraram mais ousados, funcionando super bem nessa trama que possui um ar mais jovem.
“Os humanos aqui não deveriam mais sentir tristeza, e, ainda assim, eles a pintam como se seus corações estivessem cheios dela.”
O livro é um verdadeiro deleite para quem sempre gostou de distopias, como Divergente, e, sendo volume único, entregou uma construção de universo elaborada, com uma estrutura complexa e bem desenvolvida, difícil de se ver. A autora não abreviou nada e preferiu um início mais descritivo para contar a trajetória da protagonista, que se desenrolou bem e me empolgou bastante para seguir em frente na leitura.
Gostei da Nami como personagem central e das suas incertezas ao longo da jornada, pois soube questionar todos os envolvidos nessa guerra, inclusive os próprios humanos, demonstrando uma capacidade enorme para a empatia. Ela em nenhum momento permite que pensem por ela, pelo contrário, preferindo refletir bem sobre cada decisão sua, mesmo que seja algo impopular.
Os demais personagens são ótimos também e agregam bastante para a construção de universo, guiando o leitor através da história local e seus conflitos, me levando a pensar que essa trama renderia uma série facilmente, mas não sei se um dia a autora vai querer dar sequência. Embora tenha um final satisfatório, ainda ficou aberto a outras possibilidades, pois não há um desfecho concreto para a experiência de Nami nas Cortes do Infinito que me levassem àquela sensação de ciclo fechado.
“Será possível que alguém esteja errado na forma como se comporta, mas certo na forma como se sente?”
Quanto ao romance, foi ao estilo slow burn, bem aos pouquinhos, pois de início o casal era inimigo e não se dava nada bem, o que perdurou quase até o final da leitura. No desfecho, toda essa inimizade fez sentido, mas confesso que ainda assim eu escolheria outra conclusão para essa narrativa, pois a Nami merecia sair de tudo o que passou melhor recompensada. Inclusive no campo do romance. Me senti completamente enganada nessa parte.
Por fim, digo que adorei a experiência de leitura e espero ler outras coisas da autora em breve.
- The Infinity Courts
- Autor: Akemi Dawn Bowman
- Tradução: Ana Beatriz Omuro
- Ano: 2022
- Editora: Alt
- Páginas: 432
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