Triângulo da Tristeza, um dos filmes indicados ao Oscar 2023, inicia apresentando o casal de modelos e influenciadores digitais Carl e Yaya, que ganham passagens para viajar em um cruzeiro de luxo frequentado por milionários de diversos países. É assim que somos apresentados a alguns dos passageiros, observando a interação deles uns com os outros e com a equipe do navio. A dinâmica do grupo subitamente muda quando o cruzeiro naufraga e os sobreviventes se vêem presos em uma ilha, obrigados a conseguir o próprio alimento e fazer fogueiras, tarefas que, dentre todos, apenas Abigail, faxineira do cruzeiro, consegue cumprir.
Trata-se de um filme de comédia cujo humor é baseado, na grande maioria das vezes, em explicitar situações levando-as ao seu extremo, trazendo com isto cenas insólitas e divertidas. Acredito que este é o coração deste filme: um humor inteligente, que evidencia os absurdos contidos nas hierarquias de poder, em que aqueles que estão em baixo são, em muitas ocasiões, submetidos a situações absurdas e humilhantes com o único propósito de agradar aqueles que tem todo o poder. Estes, por sua vez, encontram-se na posição de demandar absolutamente qualquer coisa, apenas porque podem. O filme não se limita a falar de dinâmicas hierárquicas apenas entre classes econômicas, mas também as traz ao abordar papéis de gênero e estereótipos atribuídos a homens e mulheres.
Minha maior – e provavelmente única – ressalva em relação a este filme encontra-se em algumas cenas grotescas. Além de terem cunho humorístico, elas quebram o padrão estético existente até então, permeado por muita pompa e luxo. Apesar de compreender a importância delas como um corte na narrativa que dá início ao caos que passa a permear o filme, essas cenas podem ser consideravelmente nauseantes. Um exemplo que encontra-se no trailer é um trecho que apresenta pessoas vomitando, com o conteúdo voando em jatos. Recomendo cautela para qualquer um com maior sensibilidade a esse tipo de cena francamente nojenta.
Devo reconhecer que não me sinto apta para julgar o filme enquanto merecedor ou não de uma premiação como o Oscar, por não ter assistido muitos dos indicados, e, principalmente, porque diversos outros aspectos, mais técnicos – como luz, fotografia e trilha sonora – devem ser levados em consideração. De toda forma, recomendo Triângulo da Tristeza para um público amplo de espectadores, por carregar uma força que reside na combinação do poder da inteligência e o do riso, que pode ser uma arma poderosa e, ao mesmo tempo, leve, para fazer pensar.
- Triangle of Sadness
- Lançamento: 2023
- Com: Harris Dickinson, Charlbi Dean Kriek, Woody Harrelson
- Gênero: Drama, Comédia
- Direção: Ruben Östlund