O Fardo do Sangue – Tiffany D. Jackson

O Fardo do Sangue, de Tiffany D. Jackson, é uma releitura de Carrie, do mestre Stephen King, um dos maiores clássicos do terror. Sendo assim, muitos semelhanças serão notadas durante a leitura, mas com uma originalidade brilhante narrada pela autora.

Bullying na escola, exclusão, tentativas de passar despercebida entre os colegas e um longo suéter velho de lã, assim temos Maddy prestes a passar por uma das situações mais traumáticas de sua vida. Esse é o ponta pé inicial para revelar a verdade sombria por traz da cidade de Springfield.

Ao lado de Maddy temos personagens interessantes dignos de debate. Jules, a melhor amiga de Wendy, claramente é racista, além de não enxergar sua posição de privilégio, nem suas falas e ações. Seu pensamento é bem infantil ao longo do livro e sempre faz algo incômodo quando aparece em cena.

Kenny ou Kendrick, é um garoto negro que nunca parou de verdade para pensar sobre o que é ser um garoto negro. Wendy é a namorada de Kenny, uma garota branca, mas diferente de Jules, não tem tantos privilégios assim. Tendo isso em mente, Wendy sempre foi cuidadosa em relação a sua imagem, tudo isso para não ser excluída ou ser deixada de lado por não ser rica. Sendo assim, ela é uma garota boa, que gosta de ajudar, que sempre participa das ações da escola, mas como conviveu com Jules boa parte de sua vida, ela não enxerga os problemas nas falas e ações da amiga.

A irmã de Kenny também é uma personagem interessante. Kali é bem envolta nas pautas que envolvem a história afro-americana, como por exemplo a criação do Sindicato dos Estudantes Negros, idealizado após alguns casos de racismo contra alguns alunos na escola.

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Mas não podemos deixar de lado a personagem que, por diversas vezes achei que não seria a personagem principal. Ao longo do livro, imaginei que a autora estava destacando como a protagonista Wendy, mas enfim… Maddy é a Carrie de Tiffany D. Jackson. Ela é criada pelo pai, Thomas Washinton, um cara que aparentemente ficou parado nos anos 60 e que trata a filha de forma bem rígida e conservadora.

Falemos também da cidade onde a história se desenrola. Springfield é uma cidade claramente racista que continua cultuando comportamentos segregacionistas entre seus habitantes, começando pelo fato de que, a escola da cidade realiza aqueles famosos bailes de formatura em áreas separadas, onde um se chama baile branco e o outro baile preto. Já tá pra sentir a atmosfera absurda dessa história, certo?

Tentando não dar spoilers, O Fardo do Sangue bebe e quase se afoga na fonte de Carrie, mas destaca o intenso racismo estrutural ainda presente em nossa sociedade. A obra se utiliza do horror de Carrie, A Estranha para apresentar outras possibilidades na história, com uma atmosfera sobrenatural que parece demais com os horrores da realidade. Apenas leiam.