A Alma do Oceano é a sequencia de “O Segredo do Oceano”, publicado 2021 pela Alt. Neste volume, Simidele enfrenta as consequências de suas escolhas no primeiro livro. Ao escolher proteger Kola da morte, ela desobedece um tratado antigo fazendo-a renunciar sua liberdade e família.
Jurando servir um novo deus, a sereia Mami Wata ainda enfrenta seus dilemas decorrentes de suas escolhas, na busca de salvar tanto uma pessoa querida, quanto a humanidade inteira. Agora ela deve guardar a Terra dos Mortos no fundo do mar, ao lado de Olocum, enterrando os mortos e fazendo suas últimas orações, mas até Iemanjá sabe o quanto isso pesa para a sereia. Porém Semi é surpreendida com um naufrágio, e entre os afogados estão corpos marcados com símbolos em comum em suas peles.
Nesses símbolos, Simi reconhece o emblema relacionados a diferentes senhores da guerra: Icu, Arún, Ofó, Égba, Oran, Epê, Ewon e Esè, os ajogum. Para quem não sabe o que são os ajogun – assim como eu não sabia, tive que recorrer a internet e descobri que: Ajogun literalmente significa, “guerreiros contra o homem”, é um nome coletivo para oito entidades responsáveis pelo caos no mundo: ikú (morte), àrùn (doenças), òfò (prejuízos), ègbà (paralesia), òràn (tribulações), èpè (pragas), èwòn (prisão), èse (preocupações de qualquer tipo), os quais os iorubás acreditam ser os mais importantes inimigos do homem; o que nos leva a pensar que, os problemas estão só começando.
Algo que creio ter esquecido de comentar na resenha do livro anterior, O Segredo do Oceano, é que, ao longo dos acontecimentos da narrativa, Simidele tem lembranças suas de quando era humana, onde podemos conhecer um pouco mais da personagem, como era sua família e como foi criada. Isso faz com que nos conectemos ainda mais com a protagonista, conhecer seus anseios e desejos.
O tom deste volume passa a ser mais melancólico, pois com o futuro da humanidade ameaçado, Simi carrega a culpa de seus atos durante as páginas. Nem sempre iremos concordar com suas atitudes, mas analisar a parte humana da personagem faz com que criemos empatia pela sua determinação e coragem.
Essa duologia de fantasia é inspirada em A Pequena Sereia, com o diferencial de destacar parte da mitologia africana, seus costumes, religiosidade e a cultura de um povo resiliente. É uma aventura que segue sendo uma boa pedida para quem procura obras que saiam do escopo “mais do mesmo”, que fala sobre ancestralidade, com aquele toque fantástico que só uma boa missão para salvar o mundo e a si mesma pode proporcionar.
A Alma do Oceano traz novos e velhos personagens de volta, rostos conhecidos retornam para ajudar, assim como os inimigos também, grandes e pequenos, mas todos com um bom nível de ameaça ao plano de Simidele de salvar o mundo – novamente. Natasha Bowen foi perfeita em criar uma fantasia cativante e original com sereias e deuses iorubás em busca da alma do oceano.
- Soul of the Deep
- Autor: Natasha Bowen
- Tradução: Solaine Chioro, Karine Ribeiro
- Ano: 2023
- Editora: Alt
- Páginas: 336
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