Nick Renshaw achava que nunca seria bom em nada, até começar a jogar rugby. Ele descobriu no esporte a paixão e a motivação que precisava para finalmente se tornar o homem que gostaria de ser. Nunca imaginou sua vida de outra forma, nunca teve um plano B, nunca pensou em si mesmo exercendo outra função. Então, quando um acidente em campo ameaça por fim em seus sonhos, ele não sabe mais quem é. Sua vida parece perder o sentido e quem mais deveria apoiá-lo vira as costas para sua dor. A luz no fim do túnel parece ser uma psicóloga que ele reluta em conhecer.
Anna Scott parece saber como trazê-lo de volta do inferno, ela tem as palavras certas, a compreensão necessária e para seu deleite, as pernas mais lindas que ele já viu. Negar a atração que ambos sentem já não é uma opção, mas uma relação nessa situação seria impossível, errado e totalmente proibido. Suportar o peso do mundo nas costas só é possível para alguém imbatível e Nick precisa mostrar que é capaz. Capaz de vencer o mundo e conquistar a garota.

Stuart Reardon estampa a capa de seu próprio livro, e precisaríamos ser cegas para não perceber a beleza existente nesse homem incrível. O que talvez não soubéssemos, é que ele seria tão bom com as palavras. Seu livro de estreia, em parceria com a autora veterana Jane Harvey-Berrick, é ricamente detalhado, cheio de emoção e sensualidade. E ainda possui aquele toque de romance proibido que costuma mexer com a nossa imaginação. Me enganei quando pensei que encontraria uma história rasa e cheia de apelação sexual desnecessária. A verdade é que Imbatível traz uma lição de vida, é capaz de inspirar mesmo os dias mais sombrios e ainda te fará sonhar com o príncipe encantado; ou ao menos, com um certo jogador de rugby. E já que começamos falando de Nick, é necessário que você saiba que tipo de personagem encontrará nele, já que é a trajetória dele que acompanhará enquanto saboreia as páginas dessa obra tão completa.

O protagonista de Imbatível lutou arduamente para conquistar tudo o que queria. Muita dedicação e treino duro fizeram dele um excelente jogador e um dos melhores em seu ramo. Essa não é uma história sobre alguém com a vida fácil que perde tudo, mas sim de alguém que já sofreu o bastante para chegar onde chegou, mas que ainda assim leva um grande golpe da vida e precisa decidir entre continuar lutando ou se abater. Quantos de nós mesmos não enfrentamos diariamente demônios que parecem assustadores demais para serem enfrentados? Acho que é exatamente por isso que Nick desperta tanta empatia. E quando um personagem entra na nossa vida dessa forma, é impossível não se emocionar com cada pequena mudança de humor, perdas e ganhos. E ele perde muito, ele perde demais.

Não sabia direito quando se apaixonara por Anna, só tinha certeza que se apaixonara. Cada sorriso, cada hora passada ao lado dela foram os melhores de sua vida. Não que ele tivesse caído de amores por ela instantaneamente. Não havia sido uma cambalhota espetacular nem um salto de um precipício; fora um calor lento e doce se apossando do seu corpo como o sol nascente.

Além do drama vivenciado pelo personagem, uma situação específica foi responsável por grandes momentos de reflexão. Não creio que seja um spoiler e acho necessário mencionar para levantar essa questão que de certa forma me incomodou. Nick, em um momento de raiva e ciúmes, se torna agressivo e violento, sua namorada tenta se colocar em sua frente e acaba sendo ferida por ele. A partir daí a situação toma proporções absurdas. Ele é acusado de violência doméstica, ela realmente está com um olho roxo e a mídia fica em polvorosa na história. O leitor tem esse lado da história, entende como ocorreu, mas isso não muda o fato que ela foi atingida. Eu senti nisso, um desserviço enorme. As mulheres quase nunca tem a credibilidade quando realizam uma denúncia, e lendo essa parte em específico, me forçou a ver o outro lado da história, que realmente nem todas são confiáveis. Não sei se gostei de me sentir assim.
Mas voltando ao livro, após uma série de tragédias, Nick chega ao fundo do poço. Me pareceu injusto tudo o que ocorreu, e mesmo na ficção é revoltante como algumas pessoas podem ser maldosas e mesquinhas e ferir o outro sem ao menos se importar. Eu achei que exigiu uma força sobre-humana do personagem, se reerguer após tamanha traição. As decepções o levaram ainda mais fundo quando despertaram nele vícios nocivos e eu simplesmente amo quando um autor consegue justificar mudanças tão drásticas por meio de dramas reais. É compreensível a dor sentida por ele. O sofrimento não é motivado por problemas banais, mas a profundidade do que ele enfrenta fica perceptível pela escrita madura e cheia de sentimentos.

Anna Scott é o bálsamo que ele precisava. Não apenas por ser uma profissional da saúde mental, mas por se tornar uma amiga tão necessária. Ela não é mais uma mulher gostosa que cura um homem por meios de atributos físicos ou jogos sensuais. E nesse ponto que vemos o respeito dos autores tanto com a história, quanto com os leitores. Anna e Nick evoluem em seu relacionamento gradativamente, não há aquele raso amor instantâneo e o envolvimento sexual do casal só surge quando Nick sai de seu estupor melancólico e recomeça a construir sua vida. O sexo não é uma válvula de escape, nem a cura milagrosa para a depressão do personagem. E há muita coerência nesse aspecto, assim como nos outros que surgem após esse episódio. A carreira de Anna é uma constante quando o assunto é assumir o namoro com Nick enquanto paciente. É um tabu, não é permitido, e fere a ética profissional.

E isso não foi abafado em nome do amor. Não foi milagrosamente resolvido. Não houve a banalização da situação. Ela foi enfrentada com a seriedade necessária e mais um ponto para os autores que tiveram a percepção de trazer um enredo verdadeiro. Talvez minha única ressalva, e é totalmente pautada na minha mera opinião de leitora e até mesmo nos meus conceitos pré-concebidos, eu achei que algumas coisas nas características de Anna fugiram do normal. Ela usava no consultório saias justas e até mesmo um piercing. Acontece que o profissional dessa área não deve jamais, em hipótese alguma, chamar atenção sobre si mesmo dentro do consultório. E fica evidente quanto tais detalhes chamam a atenção dos pacientes, já que é citado mais de uma vez no livro.
Sobre a escrita, posso dizer que ela é simples, mas não menos interessante. É possível sentir o toque masculino nas linhas, nos diálogos e principalmente na descrição dos jogos de rugby. Não há aqueles trechos poéticos, e muito menos frases de efeito que costumam enfeitar os livros de romance, mas há sinceridade de sobra. A narrativa em terceira pessoa não é a minha favorita, sinto dificuldade em me conectar com os personagens, mas na resenha fica evidente que isso não é um problema nesse livro. O desfecho foi condizente com a obra, que desde o início prezou pelo tom realístico e eu não poderia ficar mais satisfeita com o rumo da história. Imbatível é sobre superação e amor, sobre recomeços e força. Pode não ser arrebatador e nem fora do comum, mas é lindo e certamente vai ocupar um lugar especial na sua estante e no seu coração.

  • Undefeated
  • Autor: Stuart Reardon & Jane Harvey-Berrick
  • Tradução: Claudia Costa Guimarães
  • Ano: 2018
  • Editora: Record
  • Páginas: 392
  • Amazon

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