Volúpia de Veludo é o terceiro volume da série
As Modistas da autora
Loretta Chase.
Leonie Noirot é a mais nova das irmãs e a que sempre teve mais afinidade com os números, por este motivo, acabou virando a responsável pela administração do Maison Noirot. Neste livro acompanharemos Leonie tendo que gerenciar o ateliê de vestidos sozinha, sem a ajuda de Marcelline e Sophia, protagonistas dos livros anteriores que se casarem recentemente. Sua missão da temporada é transformar Gladys Fairfax na dama mais desejada entre os lordes solteiros e com ajuda dos seus refinados vestidos também fisgar um ótimo marido.
Simon Fairfax, o marquês de Lisburne, é primo de Gladys e de uma personagem já bastante conhecida por nós, Sara Fairfax. Ele acaba retornando a Londres para cumprir com uma simples obrigação familiar, porém, no meio do caminho ele conhece Srta. Leonie e logo fica encantado pela ruiva. Envolvidos em uma peculiar aposta, esta será a chance de Simon perceber o quanto Leonie é talentosa e determinada no que faz, e, Leone, pela primeira vez, deixar de colocar o trabalho em primeiro lugar em sua vida.
Após ler quatro livros da autora, finalizei um não tão encantada pela história que tinha conhecido. O que me deixa extremamente chateada, pois
As Modistas é uma série que sempre defendi, por todas as nuances que a autora trabalha e todas as temáticas que são discutidas entre a vida desses personagens. Vir aqui e apontar algumas das coisas que me desagradaram não foi uma tarefa fácil, mas sinto uma certa obrigação em ser o mais transparente possível, até para que a experiência de leitura de vocês possa ou não, ser diferente da minha, quem sabe.
Aqueles que insistem no erro costumavam sofrer acidentes terríveis. Uma das primeiras regras que Leonie aprendeu foi que os homens só se interessavam por uma única coisa. Prima Emma havia ensinado às meninas sob sua responsabilidade não apenas a arte da costura, mas também a se defender de homens. Entretanto, esquecera de lhes falar sobre como lidar com deuses gregos.
Nesta série dá para perceber o quanto a autora busca uma identidade para cada livro com tons e abordagens diferentes, refletindo diretamente na personalidade de cada protagonista. Em Sedução da Seda, com Marcelinne, a irmã mais velha e líder entre as irmãs, adentramos nas problemáticas da família e no quanto o Moison Noirot é importante. Questões mais políticas ganham mais espaço e a relação da burguesia com a nobreza é discutida no enredo. Já em Escândalo de Cetim, Sophie com todas suas artimanhas investigativas e com seu dom para divulgar as informações necessárias, muda o tom da série para uma atmosfera mais dinâmica e divertida. Em Volúpia de Veludo, no entanto, notei que houve uma dificuldade em encontrar o equilíbrio na narrativa, na personalidade de Leonie, e nas motivações dos personagens, resultando numa leitura amarrada demais.
Apesar de ser uma característica na escrita da autora, de primeiramente trabalhar melhor a trama para depois, enfim, trazer o envolvimento do casal protagonista à tona, sinto que neste livro, os personagens não apresentaram a dita química que sentimos entre os casais anteriores. Os diálogos entre Simon e Leonie não me convenciam e me pareceram presos demais. O envolvimento romântico demorou bastante para acontecer e quando acontece finalmente pude me senti mais abraçada pela história. A partir daí a velha Loretta volta a ser aquela que eu já conhecia e conseguiu me cativar mesmo depois de meio livro.
Falando mais precisamente sobre os personagens, acompanhar Leonie desamparada após o distanciamento de suas irmãs e tendo que lidar com todos os problemas que envolvem a loja foi bastante interessante. Ver uma personagem completamente regrada e cheia de hábitos quase no limite para resolver todos os problemas que aparecem durante a trama rendeu boas risadas. Simon apesar das segundas intenções em relação a Leonie, se envolve rapidamente com a personagem e demonstra isso sem ressalvas, o que é bastante incomum em livros do gênero, normalmente, a mocinha sempre acaba cedendo primeiro. O marquês se mostra bastante interessado em ajudar e a fazer parte da loucura que é a vida dessas irmãs e para isso está disposto até de enfrentar um certo duque que conhecemos no primeiro livro.
Os personagens secundários continuam sendo outro ponto forte desses livros. Gladys rouba a cena em diversos momentos e por outros acaba virando uma salvadora, principalmente para Lorde Swanton, poeta e melhor amigo de Simon. Sem dúvidas Swanton entra para o hall dos personagens únicos que já conheci dentro do gênero. Clara também aparece muito em Volúpia de Veludo, pouco mais introspectiva eu diria, mas ela é uma personagem que desperta minha curiosidade e pelo qual sinto um grande apreço. Torço muito pelo o seu final feliz, o que não deve demorar muito visto que o último e quarto volume da série será, finalmente, dela.
Além de bons personagens, a autora trabalha em seu pano de fundo a arte. Como mencionei, Swanton é poeta e durante a trama acompanharemos os personagens em saraus e eventos do tema. Pequenos trechos de poesias se encontram logo no início de cada capitulo e todo verso e citação utilizada é mencionada e creditada pela autora. Também não é por pura coincidência que Leonie e Simon acabam se conhecendo em frente a uma obra de
Botticelli, o Vênus e Marte, que é de propriedade de Simon, um apaixonado pela arte. Aqui a autora utilizada de uma certa licença poética, se apropriando de algumas obras e mexendo um pouco na cronologia da história, mas visto que tudo está tão bem inserido e dando um toque todo especial para este livro, tudo é perdoado e até funciona como um atrativo para o leitor.
– Que droga, Leonie. – Não sou Leonie para o… – retrucou ela, e a boca de Lisburne abafou aquela resposta zangada. Ela deveria fazê-lo para. Deveria feri-lo, se fosse necessário. Mas nem fingiu lutar.
Os detalhes sobre as vestimentas, tecidos e acessórios da época é igualmente explorado, assim como em todos os volumes da série. Para cada novo vestido que Leonie ou Gladys utilizam preparem-se para descrições minuciosas, afinal, estão nos contando a história de três modista gananciosas e renomadas. Ao final da obra, a autora também se preocupa em falar um pouco sobre a história desses tecidos e a nomenclatura deles. O que na minha opinião, é interessantíssimo. Não sei se deixei passar isso nos últimos volumes, mas fiquei realmente surpresa em saber mais sobre o assunto, sem dúvidas a autora preferiu fazer uma ampla pesquisa para embasar suas personagens e série do que simplesmente escrever sobre costureiras do século XVIII.
As Modistas continua sendo uma das minhas séries preferidas e não é um livro que irá enfraquecer toda a minha relação com a autora. Pena que este não me agradou tanto, mas visto o que ela vem construindo desde o primeiro volume, de modo geral é uma série que encanta e que fala principalmente sobre personagens femininas extremamente batalhadoras e determinadas. Talvez meu único problema foi não ter me identificado tanto assim com Leonie. Eu sou uma romântica incorrigível, então personagens mais duronas demoram para me convencer.
Espero que tenham gostado e mais uma vez digo, não deixem que minha opinião tenha influenciado a experiência de leitura de vocês, as vezes o que não foi tão bom para mim, pode ser bastante interessante para você e vice-versa. A gente se vê em Romance entre Rendas, próximo volume de As Modistas.